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Paulo Muacho: “Se mudarmos agora de governo, provavelmente o aeroporto não irá avançar” - O Setubalense

23 Maio 2024, Quinta-feira

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Paulo Muacho: “Se mudarmos agora de governo, provavelmente o aeroporto não irá avançar”

Paulo Muacho: “Se mudarmos agora de governo, provavelmente o aeroporto não irá avançar”

Paulo Muacho: “Se mudarmos agora de governo, provavelmente o aeroporto não irá avançar”

A aposta deve ser na ferrovia, diz o candidato, que defende a criação de alternativas ao transporte aéreo. E como exemplo aponta ao reforço das “ligações entre o eixo Setúbal-Lisboa-Porto-Vigo e também ao Porto de Sines”

 

Tem 31 anos, é advogado, natural do Alentejo, mas criado no Seixal, onde viveu até adulto. Actualmente reside em Lisboa. Paulo Muacho é militante do Livre desde a fundação, já foi candidato nas legislativas de 2015, por Setúbal, e 2019, por Lisboa. No mandato 2017-2021, ao abrigo de um acordo entre o Partido Socialista e o Livre, foi eleito deputado municipal em Lisboa.

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LEGISLATIVAS: Entrevista a Paulo Muacho, cabeça-de-lista do Livre por Setúbal

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Porquê o Paulo Muacho como cabeça-de-lista por Setúbal nestas eleições?

No Livre escolhemos os nossos candidatos por primárias abertas, somos o único partido que o faz. Continuamos a acreditar que é o método mais correcto de se escolher os candidatos. Todas as pessoas que consideram ter condições, apresentam-se a essas eleições primárias e, depois, os militantes do Livre e os cidadãos independentes que escolham inscrever-se nas primárias, fazem essa votação. Com base nessas primárias, formámos uma lista com 20 pessoas, com homens e mulheres que são do distrito e que sabem dos seus problemas e que, sobretudo, querem trabalhar para poder resolver esses problemas. É fruto desse resultado que estou a servir como porta-voz deste colectivo.

O partido diz que “a alternativa é ser Livre”. Isso quer dizer exactamente o quê?

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Quer dizer várias coisas. E, sobretudo, a forma como o Livre quer posicionar-se nestas eleições: como alternativa séria e credível àquilo que é um falhanço retumbante da “geringonça”. Entre 2015 e 2019 tivemos uma governação do PS, mas assente em acordos assinados com os partidos de esquerda – uma solução que o Livre foi o primeiro partido a defender e consideramos que a apresentação dessa alternativa, em 2015, foi um factor de pressão sobre os outros partidos de esquerda para que essa solução acontecesse. Mas a verdade é que, desde 2019 – algo para o qual o Livre também alertou –, estes partidos de esquerda escolheram não assinar um acordo, negociar tudo na base dos orçamentos e nos casos que iam acontecendo. Obviamente, chegámos a esta situação. Há um orçamento que é chumbado, pela primeira vez na nossa democracia, e temos grandes dúvidas agora de como será a governabilidade futura do País. Por um lado, o PS muito claramente está a pedir uma maioria absoluta, contra aquilo que, no nosso entender, é a vontade das pessoas. As pessoas não querem maiorias absolutas, nem do PS nem do PSD. O PSD apresenta-se como uma alternativa bastante frágil, que, muito provavelmente, terá que ser sustentada na extrema-direita. E podemos estar, a partir do dia 30, num cenário de bloco central, que é também algo indesejável. Por outro lado, o BE e o PCP têm tido uma postura completamente inconstante, entre intransigência nas negociações e vontade de convergência, e não sabemos, depois do dia 30, qual será o posicionamento destes partidos relativamente à governabilidade do País.

E da parte do Livre o que podem os eleitores esperar? Uma esquerda mais moderada?

Não é uma questão de moderação ou de radicalismo. É uma questão de clareza. O voto no Livre, nestas eleições, é o mais claro de todos. Votar no Livre é votar para criar uma maioria de esquerda e, se houver essa maioria, o Livre vai trabalhar para que haja um governo de esquerda, para que haja um orçamento ancorado à esquerda. Com os outros partidos não temos esta clareza. Não sabemos se o BE e o PCP vão ser o BE e o PCP do sectarismo e do ataque constante ao PS, e também não sabemos se o PS será o PS de 2015 da convergência e da geringonça, ou este PS com ilusões de auto-suficiência, e que fala muito abertamente em blocos centrais com o PSD. O voto no Livre é muito claro. Uma maioria de esquerda, um governo de esquerda, um orçamento de esquerda, uma governação de esquerda, para uma legislatura.

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Do programa eleitoral, que propostas quer destacar, sobretudo com maior proximidade à região?

O Livre foi um dos primeiros partidos a apresentar o programa eleitoral, que é bastante extenso e pode ser consultado no nosso site. Neste programa, procuramos dar resposta àquilo que entendemos serem as principais crises que o nosso país está a atravessar. Temos a crise ecológica, a crise pandémica, uma crise de habitação muito forte, uma crise social e económica, e nós temos várias propostas para atacar estes problemas. Dou vários exemplos. Portugal é, com o clima que tem, um dos países da Europa ocidental onde se passa mais frio, onde mais pessoas morrem de frio. E isto acontece porque as nossas casas, o edificado, não está isolado, não é energeticamente sustentável. Nós temos uma proposta, que está a ser aplicada em Itália, em que o Estado paga 110% da renovação dos edifícios para esta climatização. É um investimento grande, mas duradouro, e que produz efeitos nos próximos 100 anos. Se quisermos falar das questões sociais, do emprego, o Livre quer colocar o nosso salário mínimo numa rota de crescimento e de desenvolvimento até chegarmos aos 1000 euros no final da legislatura.

Como é que isso pode ser sustentável?

Isso é sustentável da mesma forma que a rota de crescimento dos últimos anos tem sido sustentável. Aliás, o PS agora vem alterar aquilo que tem dito nos últimos anos, e já propõe chegar aos 900 euros em 2026.

O que está a dizer é que a economia real do País aguenta uma subida até 1 000 euros nesse calendário, ou acha que basta decretar e ver os efeitos na competitividade das empresas?

Não, não basta decretar. É preciso, também, haver clareza e estabilidade, os empresários saberem o que vai acontecer nos próximos anos e terem muito claro para o que se devem preparar. Aquilo que temos tido nos últimos anos é uma governação à vista, coisas que aparecerem de última hora, que são feitas em reacção, não há um plano, não há uma visão. Essa questão que coloca é bastante importante, porque toca precisamente nesta questão do desenvolvimento do País. Temos uma visão que é radicalmente oposta à dos outros partidos. A direita tem-nos apresentado um modelo de desenvolvimento assente em salários baixos. Nós somos trabalhadores competentes, mas baratinhos, portanto as empresas podem vir para Portugal. Isto não é um modelo de desenvolvimento que nos interesse, porque nós queremos que os portugueses tenham bons salários e boa qualidade de vida. Não queremos competir com a China ou a Índia, até porque vamos sempre perder nesse campeonato. O PS tem sido muito inconstante e também não se percebe muito bem qual é o modelo de desenvolvimento que quer. O Livre, claramente, quer apostar num modelo de desenvolvimento de uma economia do conhecimento, altamente especializada, altamente produtiva, também, mas com salários altos, ao nível dos salários europeus. É preciso definir este plano e implementá-lo, e isso é que tem faltado. Por isso, Rui Tavares, nos debates em que tem participado, tem lançado este desafio à esquerda. Depois das eleições, vamos trabalhar com o objectivo de, até ao 25 de Abril do próximo ano, termos este modelo de desenvolvimento definido, com participação de todos, com a participação das universidades, dos especialistas de cada área e dos parceiros sociais.

Sobre o facto de a Península de Setúbal integrar a Área Metropolitana de Lisboa, a questão das NUTS, qual é que é o pensamento do Livre?

Temos essa proposta no nosso programa, já tínhamos em 2019, e somos claramente favoráveis a autonomizar a Península de Setúbal na criação de uma nova NUTS, que permita também o acesso a fundos europeus. Efectivamente, há uma grande diferença em termos de desenvolvimento e de coesão social entre a península de Lisboa e a Península de Setúbal. Aliás, nas primeiras reuniões que tivemos com o governo, quando o Livre ainda estava representando na Assembleia da República, foi logo uma das primeiras propostas que sugerimos.

Fala em autonomizar no que toca às NUTS. E no que diz respeito à regionalização? Defendem também que a Península de Setúbal não deve ficar integrada na região de Lisboa?

O Livre é claramente favorável à regionalização, que temos no nosso programa desde a criação do partido. Portugal é um dos únicos países da Europa que não tem nível intermédio de governação. O governo tentou fazer agora esta descentralização de competências, que tem algumas coisas positivas, mas que tem muitas negativas, e a principal é que não é democrática. Ter pessoas que são escolhidas pelos autarcas não é, no nosso entender, a melhor forma de o fazer. Queremos regiões que tenham competências próprias e eleição directa. Isso é o que a Constituição prevê e nós queremos que seja cumprida. Relativamente à definição de cada região, acho que é um debate que deveria ser feito. O Livre não tem uma posição definida sobre a integração, ou não, numa região. Há uma grande ligação da Península de Setúbal à Área Metropolitana de Lisboa [AML], há questões sociais, de transportes e de habitação, que têm influência, e há coisas positivas nessa integração das políticas e em as pessoas da Península de Setúbal terem uma palavra a dizer naquilo que é decidido em Lisboa, no centro da área metropolitana.

Quanto ao aeroporto, qual é a posição do Livre?

O Livre é contra o que tem sido feito pelo governo para o aeroporto, porque coloca em causa um ecossistema único em toda a Europa. Lisboa é a única capital europeia que tem um estuário com estas características. Esta Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) é um bocadinho atirar areia para os olhos, porque vamos estudar as opções que já estão pré-determinadas. O que o Livre defende para a eventual opção de um novo aeroporto é fazer uma AAE alargada a todas as hipóteses.

Isso não é voltar à estaca zero? Andamos há 50 anos a estudar a localização.

O problema é andarmos há 50 anos a estudar e fazê-lo sempre mal. Temos sempre a intromissão dos políticos que querem impor as suas agendas sem terem qualquer tipo de critério técnico. O governo também foi obrigado a recuar e perdemos anos. O problema é que muito dos investimentos que Portugal tem de fazer são sucessivamente adiados. Se mudarmos agora de governo, provavelmente o aeroporto não irá avançar, os outros investimentos não vão avançar.

O programa do Livre inclui uma vertente sobre investimento em infra-estruturas. Quais devem ser as prioridades para o distrito de Setúbal?

Há várias prioridades. O Livre acha que a aposta deve ser claramente pela ferrovia, num contexto de crise climática devemos questionar o transporte aéreo. Não defendemos acabar com ele, porque seria impossível, mas devemos criar alternativas que permitam, por exemplo, reforçar as ligações entre este eixo Setúbal-Lisboa-Porto-Vigo, com ligações ferroviárias. E também ao Porto de Sines, que é fundamental, para fortalecer a economia deste distrito e proteger o equilíbrio ecológico.

Nas últimas eleições o Livre conseguiu entrar na Assembleia da República. Para Setúbal, o que considera um resultado aceitável?

Um bom resultado é conseguirmos reforçar a votação, ter mais votos do que tivemos em 2019. Consideramos que é fundamental este distrito ter uma representação na Assembleia da República que defenda estes valores, da ecologia, do progressismo, da convergência, de uma cultura de diálogo, porque acho que, também, é isso que as pessoas querem. Por isso é que as pessoas do distrito de Setúbal votam sempre maioritariamente à esquerda e querem esse diálogo à esquerda no Parlamento.

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