Delirium

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Delirium
Delirium
Homem com delirium por infecção severa da meninge.
Especialidade psiquiatria, neurologia, psicologia
Classificação e recursos externos
CID-10 F05
CID-9 293.0
CID-11 897917531
DiseasesDB 29284
MedlinePlus 000740
eMedicine med/3006
MeSH D003693
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Delirium, estado de confusão mental ou síndrome orgânico cerebral aguda (delirium é latim para "estar fora de si") é uma síndrome orgânica caracterizada por um rápido deterioro na atenção, consciência e cognição. O início é rápido variando de algumas horas até poucos dias. Geralmente o paciente em delirium apresenta sonolência diurna e agitação noturna, causando prejuízos a seu ciclo de sono e vigília. Foi descrito por Hipócrates por volta de 460-366 a.C., sendo um dos primeiros transtornos neurológicos conhecidos.[1]

Não confundir com delírio, um transtorno psicótico crônico, caracterizado por crenças irredutíveis apesar de evidências contrárias.

Causas[editar | editar código-fonte]

O delirium é causado pelo comprometimento transitório da atividade cerebral por uma doença grave com perda da homeostase (equilíbrio necessário para o bom funcionamento do organismo) do cérebro e da desorganização da atividade neural.[2] A própria internação hospitalária predispõe ao estado confusional. [3]

Em pessoas predispostas pode ser desencadeado por:[4]

Quando é associado ao alcoolismo é chamado de delirium tremens.

Fatores de risco[editar | editar código-fonte]

Os fatores predisponentes mais importantes são[5][6]:

Sinais e sintomas[editar | editar código-fonte]

Os principais sintomas são[1]:

  • Alterações da consciência e da atenção;
  • Déficits cognitivos específicos (desorientação temporoespacial, comprometimento da memória, do pensamento e do juízo);
  • Alterações da sensopercepção (distorções ou ilusões visuais, auditivas etc.);
  • Perturbações da psicomotricidade (letargia, movimentos desorganizados);
  • Distúrbios do comportamento e do humor (apatia, irritabilidade, ansiedade ou euforia);
  • Inversão do ciclo de sono-vigília (sonolência de dia, insônia à noite).

É comum que a pessoa com delirium tenha uma fala desconexa ou pouco coerente, gemidos de dor e pouca lucidez. Em um delirium mais longo é comum ocorrerem variações na intensidade dos sintomas e períodos de maior e menor lucidez.[7]

Tipos[editar | editar código-fonte]

De acordo com os sintomas pode ser classificado como[8]:

  • Delirium hiperativo: Facilmente reconhecido, é caracterizado por inquietude, ansiedade, mudanças rápidas de humor, alucinações e recusa em cooperar com os cuidados.
  • Delirium hipoativo: Com atividade motora reduzida, lentidão e sonolência. Parece estar atordoado.
  • Delirium misto: Alternando entre o estado hiperativo e hipoativo.

Prevalência[editar | editar código-fonte]

Delirium é um sintoma comum de uma variedade de anormalidades neuroquímicas, sendo muito mais comum em idosos, em viciados em drogas e em portadores de doenças neurológicas ou infecciosas.[9]

Estima-se que nas práticas clínica e cirúrgica, o diagnóstico correto de delirium só é feito em cerca de 30% a 50% dos pacientes, portanto é difícil avaliar a real prevalência do delirium.[10]

Dentre os idosos admitidos em serviços de emergência, estima-se que cerca de 25% a 60% apresentem delirium em algum momento. Sendo assim, trata-se de um dos sintomas mais comuns em idosos hospitalizados.[11]

Está associado à maior taxa de morbimortalidade, mais sinais de deterioração física, mais complicações pós-cirúrgicas, maiores taxas de admissão em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), maior tempo de permanência hospitalar e maiores índices de institucionalização após a alta.[12]

Em um estudo com 325 idosos na UTI de um hospital, 44% dos que tiveram delirium eventualmente foram re-institucionalizados, 10% dos que tiveram sintomas de delirium e nenhum entre os que não apresentaram sintomas.[13]

Portanto, esse diagnóstico não deveria ser subestimado. Trata-se de um importante preditor de complicações, fundamental para formular um prognóstico adequado.[1]

Diagnóstico[editar | editar código-fonte]

São critérios diagnósticos para delirium, segundo DSM-IV:[14]

  1. Perturbação da consciência (isto é, redução da clareza da consciência em relação ao ambiente), com redução da capacidade de direcionar, focalizar, manter ou deslocar a atenção.
  2. Uma alteração na cognição (tal como déficit de memória, desorientação, perturbação da linguagem) ou desenvolvimento de perturbação da percepção que não é mais bem explicada por demência preexistente, estabelecida ou em evolução.
  3. A perturbação desenvolve-se ao longo de curto período de tempo (em geral de horas a dias), com tendência a flutuações no decorrer do dia.
  4. Que existam evidências, a partir da história, exame físico ou achados laboratoriais, de que a perturbação é causada por conseqüências fisiológicas diretas de condição médica geral.

Nota para a codificação: se o delirium está associado a uma demência preexistente do tipo Alzheimer ou Demência vascular, deve-se codificar o delirium apenas como subtipo apropriado de demência. Por exemplo: 290.3 demência do tipo Alzheimer, com início tardio e delirium.

Nota para a codificação: incluir o nome da condição médica geral no eixo I (Transtornos psiquiátricos clínicos), por exemplo 293.0 delirium devido à encefalopatia hepática; codificar também a condição médica geral no eixo III (Condições médicas agudas ou doenças físicas).

Classificação pelo CID-10[editar | editar código-fonte]

São critérios diagnósticos para delirium, segundo a CID-10:[15]

  1. Comprometimento da consciência e atenção (em continuum de obnubilação ao coma; capacidade reduzida para dirigir, focar, sustentar e mudar a atenção).
  2. Perturbação global da cognição (distorções perceptivas, ilusões e alucinações mais freqüentemente visuais; comprometimento do pensamento abstrato e compreensão, com ou sem delírios transitórios, mas tipicamente com algum grau de incoerência, comprometimento das memórias imediata e recente, mas com a memória remota relativamente intacta; desorientação temporal, assim como, em casos mais graves, espacial e pessoal);
  3. Perturbações psicomotoras (hipo ou hiperatividade e mudanças imprevisíveis de uma para outra; tempo de reação aumentado; aumento ou diminuição do fluxo da fala; intensificação da reação de susto);
  4. Perturbação do ciclo sono-vigília (insônia ou, em casos graves, perda total do sono ou reversão do ciclo sono-vigília; sonolência diurna; piora noturna dos sintomas; sonhos perturbadores ou pesadelos, os quais podem continuar como alucinação após o despertar);
  5. Perturbações emocionais, por exemplo depressão, ansiedade ou medo, irritabilidade, euforia, apatia ou perplexidade abismada.
  6. O início é usualmente rápido, o curso flutuante ao correr do dia e a duração total da condição menor que seis meses. O quadro clínico é tão característico que o diagnóstico pode ser feito mesmo que a causa subjacente não esteja completamente esclarecida.

Outros nomes pra mesma doença incluem:

  • Síndrome cerebral aguda;
  • Estado confusional agudo (não-alcoólico);
  • Psicose infecciosa aguda;
  • Reação orgânica aguda;
  • Síndrome psicorgânica aguda.

Tratamento[editar | editar código-fonte]

O delirium melhora quando a causa foi tratada. Então se foi causado por uma pneumonia bacteriana, a consciência melhora alguns dias depois do tratamento antibiótico ser iniciado. Se foi causado por insônia, melhora após uma boa noite de sono. Se foi causada por uma internação estressante com muitas medicações geralmente melhora com a alta.

Diferença entre delírio, delirium e delirium tremens[editar | editar código-fonte]

Os termos supracitados se referem a transtornos do pensamento, porém delírio envolvem crenças distorcidas sem prejuízo na inteligência, enquanto delirium envolve distúrbios cognitivos em função de um problema orgânico.

Delírio envolve crenças mal fundamentadas, que a pessoa resiste a qualquer argumentação lógica e que causa sérios prejuízos na vida social do indivíduo. Exemplos: Delírio de grandeza, delírio de perseguição, ciúme patológico...

Delirium se refere a uma confusão mental aguda e importante fator diagnóstico de transtorno orgânico. O exemplo mais comum é um idoso que não conseguir raciocinar adequadamente, sentir-se desorientado em tempo e espaço, lento e apático durante de uma infecção séria com febre e mal estar geral.

Delirium tremens é um tipo de delirium específico da Síndrome de abstinência de álcool ou de medicamentos depressores do sistema nervoso central. Envolve confusão mental, muita ansiedade, euforia, rápidas variações de humor, distúrbios do sono e convulsões.[16]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c WACKER, Priscilla; NUNES, Paula V. and FORLENZA, Orestes V.. Delirium: uma perspectiva histórica. Rev. psiquiatr. clín. [online]. 2005, vol.32, n.3 [cited 2011-06-29], pp. 97-103 . Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-60832005000300001&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0101-6083. doi: 10.1590/S0101-60832005000300001.
  2. LIPOWSKI, Z.J. - Delirium: acute confusional states, Oxford University Press, New York, pp.3-37, 1990a.
  3. McCusker J, Cole M, Abrahamowicz M, Han L, Podoba JE, Ramman-Haddad L (October 2001). "Environmental risk factors for delirium in hospitalized older people". Journal of the American Geriatrics Society. 49 (10): 1327–34. doi:10.1046/j.1532-5415.2001.49260.x. PMID 11890491.
  4. Mayo Clinic - Delirium overview
  5. Fong TG, Tulebaev SR, Inouye SK (April 2009). "Delirium in elderly adults: diagnosis, prevention and treatment". Nature Reviews. Neurology. 5 (4): 210–20. doi:10.1038/nrneurol.2009.24. PMC 3065676. PMID 19347026.
  6. Mind disorders
  7. Mayo Clinic - Symptoms
  8. Liptzin B, Levkoff SE (December 1992). "An empirical study of delirium subtypes". The British Journal of Psychiatry. 161 (6): 843–845. doi:10.1192/bjp.161.6.843. PMID 1483173.
  9. FRANKLIN SANTANA SANTOS PEREZ. Mecanismos fisiopatológicos do delirium. Rev. Psiq. Clín. 32 (3); 104-112, 2005 http://www.scielo.br/pdf/rpc/v32n3/a02v32n3.pdf
  10. E.L.; SILVERMAN, M. - Delirium: the often overlooked diagnosis. Int J Psychiatr Med 14:181-8, 1984.
  11. ERKINJUNTTI, T.; WIKSTROM, J.; PALO, J.; AUTIO, L. - Dementia among medical inpatients: Evaluation of 2000 consecutive admissions. Arch Intern Med 146:1923-6, 1986.
  12. MURRAY, A.M.; LEVKOFF, S.E.; WETLE, T.T - Acute delirium and functional decline in the hospitalized in the hospitalized elderly patient. J Gerontol 48:M181-186, 1993.
  13. LEVKOFF, S.E.; EVANS, D.A.; LIPTZIN, B.; CLEARY, P.D.; LIPSITZ, L.A.; WETLE, T.T.; REILLY, C.H.; PILGRIM, D.M.; SCHO,R J.; ROWE, J. - Delirium the occurrence and persistence of symptons among elderly hospitalized patientes. Arch Intern Med 152(2):334-40, 1992 .
  14. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION - Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IV), fourth edition text revision. Washington, DC, 2000.
  15. CLASSIFICAÇÃO DE TRANSTORNOS MENTAIS E DE COMPORTAMENTO DA CID-10: DESCRIÇÕES CLÍNICAS E DIRETRIZES DIAGNÓSTICAS, Coord. Organiz. Mund. da Saúde, Artes Médicas, Porto Alegre, 1993.
  16. [1]