Mostrar código-fonte de Temas LGBT na mitologia

{{Parcial|data=março de 2021}}
{{Reciclagem|data=março de 2017}}
{{Formatar referências|data=março de 2017}}
{{Mitologia LGBT}}
'''Temas LGBT na mitologia''' refere-se às diversas [[mitologia]]s e [[narrativa]]s [[religiosa]]s que incluem histórias de afeição [[romântica]] ou [[sexual]] entre [[Homossexualidade|figuras do mesmo sexo]] ou ações divinas que resultam em mudanças de [[gênero]]. Esses mitos têm sido interpretados como formas antigas de expressão [[LGBT]] ([[Lesbica|Lésbica]]s, [[Gay]]s, [[Bissexuais]] e [[Transgênero]]s) e várias concepções de sexualidade e gênero têm sido aplicadas a eles. Muitas mitologias atribuem a homossexualidade ou aos gêneros sexuais nos seres humanos uma ação dos deuses ou outras intervenções sobrenaturais. Exemplo disso são os mitos em que os deuses ensinam as pessoas sobre práticas sexuais do mesmo sexo, ou estórias que explicam a causa da homossexualidade ou transgênero.

A presença de temáticas LGBT nas mitologias se tornou uma temática de estudo intenso. Os estudos de [[estudos de gênero]] e [[teoria queer]] nas tradições não-ocidentais são menos desenvolvidos, mas a quantidade de estudo está crescendo desde o fim do século vinte.<ref>{{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/42855022|título=Buddhism, sexuality, and gender|data=1992|editora=State University of New York Press|outros=José Ignacio Cabezón|local=Albany, NY|oclc=42855022}}</ref> Mitos frequentemente incluem ser gay, bissexual ou transgênero como símbolos para experiências místicas ou sagradas.<ref>{{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/39052137|título=Cassell's encyclopedia of queer myth, symbol, and spirit : gay, lesbian, bisexual, and transgender lore|ultimo=Conner|primeiro=Randy P.|data=1998|editora=Cassell|outros=David Hatfield Sparks, Mariya Sparks|local=London|oclc=39052137}}</ref> Davdutt Pattakaik argumenta que mitos "capturam o inconsciente coletivo das pessoas", e que isso reflete as crenças fortemente embasadas sobre as variantes sexuais que podem estar de acordo com morais sociais repressivas.<ref>{{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/45845455|título=The man who was a woman and other queer tales from Hindu lore|data=2002|editora=Harrington Park Press|outros=Devdutt Pattanaik|local=New York|página=3|oclc=45845455}}</ref>

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== Perspectiva crítica ==
{{Quote box|width=27%|align=right|quote=<div style="text-align:left;">...As manifestações ''queer'' da sexualidade, embora reprimidas socialmente, encontram um caminho de expressão nos mitos, lendas e tradições da terra.
</div>
|source=[[Devdutt Pattanaik]],<br />''The Man who was a Woman and other Queer Tales of Hindu Lore''.<ref name=Pattanaik3/>
}}
O estatuto da mitologia varia de acordo com a cultura. Geralmente os mitos atuais são e os antigos eram literalmente acreditados como verdadeiros no seio da sociedade que os criou e considerados errados ou fictícios em outros lugares. Algumas culturas podem considerar os mitos como transmissores de verdades [[Psicologia|psicológicas]] ou [[Arquétipo|arquetípicas]]. Os mitos têm sido usados para explicar e validar as [[Instituição social|instituições sociais]] de uma determinada cultura,<ref name=Pequigney1>Pequigney (2002), p. 1</ref> bem como educar os membros dessa cultura. Esse papel social tem sido postulado em estórias que incluem amor entre pessoas do mesmo sexo, cujos objetivos eram educar os indivíduos quanto à atitude correta a adotar para o [[comportamento sexual|atividade sexual]] de [[Homossexualidade|pessoas do mesmo sexo]] e construções de gênero.<ref>Zimmerman & Haggerty, p.527, "Mythology, Nonclassical"</ref>
[[Imagem:Tlazolteotl 1.jpg|esquerda|150px|thumb|[[Tlazoteotl]], a deusa do nascimento.]]
Desde o início da história escrita, centenas de culturas, mitos, [[folclore]]s e [[textos sagrados]] têm incorporado temas [[Homoerotismo|homoeróticos]] e de [[identidade de gênero]].<ref name=connerix>Conner Sparks (2002), p. ix, "Introduction"</ref> Assim, desde esses tempos mais remotos, muitos mitos narravam estórias envolvendo homossexualidade, bissexualidade ou transgeneridade como [[símbolo]] de experiências míticas e/ou sagradas.<ref name=connerix/> Hoje em dia, o homoerotismo e a variância de gênero nesses mitos antigos têm sido analisados e estudados através das concepções LGBT modernas acerca de identidades e comportamentos, e muitas vezes criam-se termos novos para classificá-los; por exemplo, em divindades que se disfarçam do sexo oposto, ou adotam comportamentos tradicionais, ou certas figuras do sexo oposto podem ser chamadas de transsexuais em outras culturas, e os seres mitológicos sem [[Reprodução|órgãos reprodutivos]] ou com ambos os órgãos masculino e feminino em suas estruturas são hoje em dia chamados de [[andrógino]]s ou [[intersexo]].<ref name="Pattanaik3">Pattanaik, 2001, p. 3</ref> Alguns mitos individuais tem sido denominados ''queer'' numa tentativa dos críticos de rejeitarem a "heteronormatividade" ou o gênero binário em seus estudos.<ref name=Pattanaik3 /> As interpretações ''queer'' podem ser baseadas apenas em evidências indiretas, tais como amizades do mesmo sexo invulgarmente estreitas ou a dedicação à [[castidade]]. Estas têm sido criticadas por ignorar o contexto cultural ou pela aplicação incorreta de preconceitos modernos ou ocidentais,<ref name=Pattanaik16>Pattanaik (2001), p. 16</ref> assumindo, por exemplo, que o celibato significa apenas evitar a [[penetração]] ou o [[Reprodução|sexo reprodutivo]] (permitindo assim o sexo homoerótico), enquanto ignora a opinião generalizada acerca da potência espiritual contida no [[sêmen]] que abrange uma vacância de todos os sexos.<ref name=Pattanaik16/>

Os acadêmicos reconhecem a presença de temas LGBT nas mitologias ocidentais e elas são objetos de intensos estudos. A aplicação de estudos de gênero e [[teoria queer]] em tradições míticas não ocidentais é menos desenvolvida, no entanto tem vindo a crescer consideravelmente desde o final do [[século XX]].<ref name="cabezon">Cabezón, p. vii, "Introduction".</ref> Geralmente as narrativas mitológicas consideram a homossexualidade, a bissexualidade e o transgênero como um símbolo de experiências sagradas ou míticas.<ref name="connersparksintroduction">Conner Sparks (2002), p. ix, "Introduction"</ref> Também é comum, principalmente nas mitologias pagãs e [[Politeísmo|politeístas]], encontrarmos seres que mudam de gênero, ou que possuem aspectos de ambos os sexos ao mesmo tempo. Não deixa de ser comum também, em tais panteões, a atividade sexual com ambos os sexos, e hoje em dia eles são comparados a [[bissexualidade]] ou [[pansexualidade]].<ref>Conner & Sparks (2004), "Introduction"</ref> Os mitos da criação, ou [[gênese]], de muitas tradições, envolvem seres [[Assexualidade|assexuado]]s ou [[hermafrodita]]s que criam o mundo através da [[relação sexual]] entre seres do sexo oposto ou do mesmo sexo.<ref>Penczak (2003), p. 34, "In the beginning-Creation Myths"</ref>

== Mitologias europeias ==
=== Greco-romana ===
{{Artigo principal|Temas LGBT na mitologia clássica}}
A [[mitologia greco-romana]] possui diversas narrativas de histórias de amores entre seres do mesmo sexo. Esses mitos têm sido considerados fundamentalmente influentes na [[Literatura gay|literatura ocidental LGBT]], sendo constantemente adaptados, republicados e reescritos e, de fato, suas figuras são muitas vezes vistas como ícones.<ref name=Pequigney1/> O [[lesbianismo]], no entanto, quase não é encontrado nos mitos greco-romanos,<ref>Compton, p. 97, "Rome and Greece: Lesbianism"</ref> embora destaca-se o de [[Calisto (mitologia)|Zeus (Artemis) e Calisto]].<ref name="Não_nomeado-yIYk-1">Downing, p.198</ref>
[[Imagem:The Death of Hyacinthos.jpg|thumb|''A Morte de Jacinto'' (1801) por [[Jean Broc]].]]

*[[Aquiles]] e [[Pátroclo]]<ref name=Pequigney5>Pequigney (2002), p.5</ref>
*[[Achilles#Troilus|Aquiles e Tróilo]]<ref>Penczak (2003), p. 17</ref>
*[[Agamemnon]] e Argynnus<ref>As [[elegia]]s de [[Propércio]] por Harold Edgeworth Butler, Eric Arthur Barbe; p277</ref>
*Agataida e [[Falanto]]<ref>''Gay studies from the French cultures: voices from France, Belgium, Brazil ...'' Por Rommel Mendès-Leite, Pierre-Olivier de Busscher; p.151</ref>
*[[Ameinias]] e [[Narciso]]<ref name=Pequigney5/>
*[[Jacinto|Apolo e Jacinto]]<ref name=Pequigney2>Pequigney (2002), p.2</ref>
*[[Himeneu|Apolo e Himeneu]]<ref name=Pequigney2/>
*[[Crisipo|Crisipo e Laio]]<ref name=Pequigney4/>
*[[Dáfnis|Dáfnis e Pã]]<ref name=Pequigney3>Pequigney (2002), p.3</ref>

O deus patrono das [[travesti]]s é [[Dionísio]], deus gerado na coxa de [[Zeus]], seu pai, depois de sua mãe morrer esmagada pela forma verdadeira de Zeus.<ref>{{citar web |url=http://www.glbtq.com/arts/subjects_dionysus.html |título=>> arts >> Subjects in the Visual Arts: Dionysus |publicado=glbtq |data=19 de setembro de 2002 |acessodata=16 de julho de 2009 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20090712090224/http://www.glbtq.com/arts/subjects_dionysus.html |arquivodata=2009-07-12 |urlmorta=yes }}</ref> Também há deuses considerados patronos do amor entre homens gays, como o amor da deusa [[Afrodite]] e os deuses em sua comitiva, tais como [[Eros]], [[Himeros]] e Pothos.<ref name=conner64>Conner & Sparks (1998), p. 64, "Aphrodite"</ref><ref>Conner & Sparks (1998), p. 133, "Erotes"</ref> Eros também faz parte de uma trindade de deuses que desempenharam papéis nas relações aquileanas, junto com [[Hércules]] e [[Hermes]], que concedeu qualidades de [[beleza]] (e fidelidade), a [[força]] e a eloqüência, respectivamente, para os amantes do sexo masculino.<ref>Conner & Sparks (1998), p. 132, "Eros"</ref> Na poesia de [[Safo]], Afrodite é identificada como patrona das lésbicas.<ref name=conner64/>

*[[Dionísio]] e Ampelus<ref name=Pequigney3/>
*Dionísio e Prosimno<ref>Robert Aldrich, ''The seduction of the Mediterranean: writing, art, and homosexual fantasy''‎, p.231.</ref>
*[[Euríalo e Niso]]<ref>Madness unchained By Lee Fratantuono; p.139</ref>
*[[Abdero|Hércules e Abderus]]
*[[Hilas|Hércules e Hilas]]<ref name=Pequigney3/>
*[[Iolau|Hércules e Iolaus]]<ref name=Pequigney4>Pequigney (2002), p.4</ref>
*[[Hermes]] e Krokus
*[[Ífis|Ianfe e Ifis]]<ref>Classical mythology By Helen Morales; p.93</ref>

Temos também a história de [[Tirésias]], adivinho cego da [[Aeona]], que conhecia "os dois lados do amor/de [[Vênus (mitologia)|Vênus]]" (tendo mudado de sexo duas vezes e vivido sete anos como mulher);<ref>''[[Metamorfoses|Met.]]'' III, 323.</ref> numa história retomada e preservada pelo poeta romano [[Ovídio]] em sua ''Metamorfoses'', [[Júpiter (mitologia)|Júpiter]] e [[Juno]] discutem quem tem mais prazer sexual, o homem ou a mulher, ao que o deus diz que as mulheres sentem maior prazer e Juno discorda, concordando, ambos, em pedir a opinião do adivinho que, dando razão à Júpiter ao afirmar que realmente as mulheres sentem maior prazer sexual que os homens, provoca a ira de Juno, que o cega.<ref>''Met.'' III, 335.</ref>
[[Imagem:Nisos Euryalos Louvre LL450 n2.jpg|thumb|[[Jean-Baptist Roman]], ''[[Eríalo e Niso]]'' (1827), [[Museu do Louvre]].]]
*[[Posidão|Poseidon]] e [[Pélope]]<ref name=Pequigney2/>
*[[Poliido]] e [[Glauco]]<ref>Sotades By Herbert Hoffmann, p.16</ref>
*[[Orfeu]] e [[trácios|os trácios]]<ref name=Pequigney4/>
*Orfeu e [[Kalais]]<ref name=Pequigney4/>
*[[Apolo]]/[[Silvano (mitologia)|Silvano]] e [[Ciparisso]]<ref>Ronald E. Pepin, ''The Vatican Mythographers'', p.17</ref>
*[[Calisto (mitologia)|Zeus (Artemis) e Calisto]]<ref name="Não_nomeado-yIYk-1"/>
*[[Ganímedes (mitologia)|Zeus e Ganímedes]]<ref name=Pequigney1/>
*[[Hermafrodito]]

Hermafrodito, por sua vez, era filho de [[Afrodite]] e [[Hermes]] e, por representar a fusão dos dois sexos, é considerado intersexo. Preservado na [[mitologia romana]], cujos pais eram [[Mercúrio (mitologia)|Mercúrio]] e [[Vênus (mitologia)|Vênus]], seu relato mais famoso é o da ''[[Metamorfoses]]'' de [[Ovídio]],<ref>''Met''. IV 288, 368, 383.</ref> em que a [[náiade]] [[Salmacis]] se apaixona por ele e roga aos deuses que nunca se separem, provocando a fusão dos dois corpos. Alguns autores referem-se que tinha cabelos longos e seios.

O deus [[Pã]], por sua vez, que vivia nas matas, engajava-se em relacionamentos com ninfas, meninas e também com meninos; sua presença causava ''pânico'', palavra que deriva de seu nome.

=== Nórdica ===
{{Veja|Mitologia nórdica}}
[[Imagem:Freyr by Johannes Gehrts.jpg|thumb|upright|"Freyr" (1901) por Johannes Gehrts]]
Nas sagas escritas na [[língua nórdica antiga]] não existe nenhuma estória de relacionamentos gay ou lésbico, tampouco referências diretas à personagens LGBT, mas elas contêm vários trechos de [[vingança]]s decretadas por homens acusados de serem [[passivo]]s em relações sexuais—o que os fariam ser considerados "afeminados" e, portanto, uma ameaça à reputação de um homem que precisava agir como líder ou [[guerreiro]].<ref>{{citar web |url=http://www.glbtq.com/social-sciences/iceland.html |título=>> social sciences >> Iceland |publicado=glbtq |acessodata=16 de julho de 2009 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20090714120806/http://www.glbtq.com/social-sciences/iceland.html |arquivodata=2009-07-14 |urlmorta=yes }}</ref>

Apesar disso, existe a hipótese de que [[Freir]], o [[Panteão nórdico|deus nórdico]] da [[fertilidade]], tenha sido adorado muitas vezes por um grupo de sacerdotes homossexuais ou afeminados, como sugerido por [[Saxão Gramático]] em sua ''[[Feitos dos Danos]]''.<ref>Dumézil, Georges. ''From Myth to Fiction: the Saga of Hadingus''. Chicago: University of Chicago Press. 1970, p.115.</ref> [[Odin]], por sua vez, é mencionado como um praticante de ''[[seid]]'', forma de [[magia]] considerada vergonhosa se praticada por homens, sendo reservada às mulheres. É possível que a prática de ''seid'' envolvia também ritos sexuais com passivos e ativos e Odin foi insultado por conta disso.<ref name=viklady>[http://www.vikinganswerlady.com/gayvik.shtml Viking Answer Lady Webpage – Homosexuality in Viking Scandinavia]. Acesso: 6 de dezembro, 2010.</ref>

Além disso, alguns dos deuses nórdicos eram capazes de mudar de sexo à vontade, como [[Loki]], deus trapaceiro (Ver [[Trickster]]), frequentemente se disfarçava de mulher e até chegou a dar à luz um [[potro]] enquanto estava na forma de uma [[égua]] branca, depois de um encontro sexual com o garanhão [[Svadilfari]].<ref name=viklady/> Comparações de um homem a uma mulher fértil e grávida eram insultos comuns na [[Escandinávia]], e as implicações que podem garantir que Loki tenha sido bissexual podem ter sido consideradas um insulto.<ref name=viklady/>

=== Celta e escocesa ===
{{Veja|Mitologia celta|Mitologia galesa}}
Não existe nenhuma representação gay ou lésbica na [[mitologia celta]].<ref name=Chereci121>Cherici, pp. 21 & 121</ref> Comentadores da [[Grécia Antiga]] e da [[Roma antiga]] atribuíam a atividade sexual entre homens, incluindo a [[pederastia]], em tribos celtas pré-cristãs.<ref>Boswell (1980), p. 183, Percy (1996), p. 18.</ref> Contudo, autores modernos escrevem que a homossexualidade era punida em certas tribos celtas por conta da influência cristã,<ref name=Chereci75>Cherici, pp. 75 & 146</ref> e que provavelmente  qualquer experiência sexual não procriativa que tenha existido foi posteriormente expurgada dos contos míticos celtas.<ref name=Chereci21>Cherici, p. 21</ref>
[[Imagem:Ferdiad.jpg|thumb|upright|[[Cú Chulainn]] leva seu irmão adotivo [[Ferdiah]] pelo rio.|left]]
Contudo, certas leituras modernas tem sugerido temáticas LGBT por exemplo, entre os heróis e irmãos adotivos [[Cúchulainn]] e [[Ferdiah]], e hoje em dia interpretam que tiveram uma relação bissexual.<ref name=cassel116/> Quando forçados a lutarem entre si, Ferdiadh menciona as camas que compartilhavam, e diz-se que eles encontraram um ao outro depois do primeiro dia do conflito e se beijaram. Depois de três dias, Cú Chulainn derrota Ferdiah furando seu [[ânus]] com uma "arma misteriosa" chamada ''[[Gáe Bulg]]''.<ref>{{citar livro|título=The Celts|último=Chadwick|primeiro=Nora|publicado=Folio Society|ano=2001|local=London|página=268|asin=B0019ZD9Y4}}</ref><ref>Cecile O'Rahilly, ''Táin Bó Cúailnge Recension 1'', Dublin Institute for Advanced Studies, 1976, pp. 195–208 [http://www.ucc.ie/celt/published/T301012/index.html]</ref><ref>Cecile O'Rahilly, ''Táin Bó Cúalnge from the Book of Leinster'', Dublin Institute for Advanced Studies, 1967, pp. 211–234 [http://www.ucc.ie/celt/published/T301035/index.html]</ref> O conto tem levado a comparações com o tema grego "guerreiros amantes" e a reação de Cú Chulainn após a morte de Ferdiah tem sido comparada com o lamento de [[Aquiles]] diante da morte de [[Patrócles]].<ref name=cassel116>Conner & Sparks (1998), p. 116 "Cú chulainn and Ferdiadh"</ref>

No quarto ramo do ''[[Mabinogion]]'' da [[mitologia galesa]], [[Gwydion]] ajuda seu irmão [[Gilfaethwy]] a estuprar [[Goewin]], titular do pé de [[Math fab Mathonwy]]. Gwydion e Gilfaethwy voltam à corte de Math, onde Gilfaethwy estupra Goewin. Quando Math sabe disso, ele transforma seus sobrinhos e um monte de pares de animais acasalados; Gwydion torna-se um cervo durante um ano e, em seguida, uma porca e, finalmente, um lobo. Gilfaethwy torna-se um cervo, [[javali]] e uma [[loba]]. A cada ano eles são obrigados a acasalar e produzirem uma prole que é enviada a Math: [[Hyddwn]], [[Hychddwn]] e [[Bleiddwn]]. Após três anos Math libera seus sobrinhos de sua punição.<ref>Conner & Sparks (1998), p. 159, "Gilfaethwy and Gwydion"</ref>

== Mitologias asiáticas ==
=== Chinesa ===
{{Artigo principal|Temas LGBT na mitologia chinesa}}
[[Imagem:Dragon gods - Project Gutenberg eText 15250.jpg|thumb|upright|Dragões deuses, do ''Mitos e lendas da China'', 1922, por E.T.C. Werner. Nos mitos, muitas vezes os dragões violentam sexualmente homens mais velhos]]
A [[mitologia chinesa]] é rica em histórias sobre homossexualidade.<ref name=GLBTQchinese1>Xiaomingxiong (2002), p.1</ref> As histórias mitológicas e folclóricas da [[História da China|China antiga]] refletem suas perspectivas em relação à homossexualidade, ao invés de pontos de vista modernos. Esses mitos são muito influenciadas por [[Religião|crenças religiosas]], em especial o [[Taoísmo]] e o [[Confucionismo]], e posteriormente incorporou elementos do [[Budismo]].<ref name=GLBTQchinese1/> A tradições pré-taoísta e pré-[[Confúcio]] eram predominantemente [[Xamanismo|xamânica]]s; acredita-se que a origem do amor masculino pelo mesmo sexo se deu no sul mítico, assim, por vezes, a homossexualidade ainda é chamada de "vento sul" e, a partir desse período, muitos espíritos ou divindades foram considerados figuras LGBT, como [[Chou Wang]], [[Lan Caihe]],<ref>{{citar livro|último =Eberhard|primeiro =Wolfram|título=A Dictionary of Chinese Symbols: Hidden Symbols in Chinese Life and Thought|publicado=Routledge & Kegan Paul, London|ano=1986|isbn=0415002281}}</ref><ref>{{citar web|url=http://www.sacred-texts.com/journals/jras/1916-21.htm |título=The Eight Immortals |publicado=Sacred-texts.com |acessodata=16 de julho de 2009}}</ref> [[Shan Gu]], [[Yu o Grande]] e [[Gun]].<ref>Conner & Sparks (1998), p. 12.</ref>

Os encontros homossexuais são comuns no folclore chinês. Nas histórias, fadas ou espíritos de animais geralmente escolhem parceiros do mesmo sexo para se relacionarem, especialmente garotos ou homens mais novos.<ref name=GLBTQchinese2>Xiaomingxiong (2002), p.2</ref> De acordo com os pioneiros chineses no estudo da [[homossexualidade na China]], a única exceção dessa preferência por mais jovens se dá com o [[dragão]], uma poderosa besta mitológica; os [[Dragão chinês|dragões chineses]] "consistentemente apreciam relações sexuais com homens velhos", e um dos exemplos se dá no conto "O Velho Fazendeiro e um Dragão", em que um agricultor de sessenta anos de idade é  [[Estupro|violentado]] por um dragão que passava por aquele lugar, resultando em feridas derivadas da [[penetração]] e mordidas que requerem atenção médica.<ref name=GLBTQchinese2/>

[[Tu Er Shen]] é uma deidade no [[folclore chinês]] que administra o amor e o sexo entre os homossexuais. Seu nome literalmente significa "divindade [[coelho]]". De acordo com "O Conto do Deus Coelho" no ''[[Zi Bu Yu]]'', Tu Er Shen era originalmente um homem chamado [[Hu Tianbao]], que certa vez se apaixonou por um belo jovem inspetor imperial da [[Fujian|Província de Fujian]]; um dia, Hu Tianbao foi pego espiando o inspector nu, e teve de confessar seus afetos relutantes em relação ao outro; por conta disso, o inspector imperial o [[Pena de morte|condenou à morte]] por [[espancamento]]; pelo fato de seu crime ter sido derivado por amor, os funcionários do submundo decidiram reparar a injustiça delegando Hu Tianbao como um deus que harmoniza os afetos homossexuais.<ref>Szonyi, Michael "The Cult of Hu Tianbao and the Eighteenth-Century Discourse of Homosexuality." Late Imperial China – Volume 19, Number 1, Junho de 1998, pp. 1–25, The Johns Hopkins University Press</ref> A fim de atender às necessidades dos homossexuais modernos, a adoração do Deus Coelho foi reanimado em [[Taiwan]] com um templo fundado em [[Younghe]] por um padre gay taoísta.<ref>Ho Yi, [http://www.taipeitimes.com/News/feat/archives/2007/10/21/2003384192 Taoist homosexuals turn to the Rabbit God] ''Taipei Times'', 21 de outubro de 2007. Acesso: 7 de dezembro, 2010.</ref>

Apesar da existência desse considerável número de mitologias de conteúdo homossexual, algumas escolas taoístas consideraram as relações homossexuais como uma forma de má conduta ao longo da história chinesa.<ref>The Ultra Supreme Elder Lord's Scripture of Precepts(太上老君戒經), in "The Orthodox Tao Store"(正統道藏)</ref><ref>The Great Dictionary of Taoism"(道教大辭典), by Chinese Taoism Association, published in China in 1994, ISBN 7-5080-0112-5/B.054</ref>

=== Japonesa e xintoísmo ===
{{Artigo principal|prefixo=Veja também|Folclore japonês|Mitologia japonesa|Xintoísmo}}

=== Hindu ===
[[Imagem:Ardhanari.png|direita|thumb|150px|[[Shiva]] e [[Shakti]] na forma de [[Ardhanarisvara]]]]
{{Artigo principal|Temas LGBT na mitologia hindu}}
{{Veja|Hinduísmo}}
Há muitos exemplos de deidades que mudam de gênero na [[mitologia hindu]], manifestando-se em sexos diferentes em momentos diferentes, ou mesmo transformando-se em seres [[andrógino]]s ou [[hermafrodita]]s. A fim de facilitar sua relação sexual, os deuses hindus modificam seu sexo ou se manifestam como [[avatar]] do sexo oposto.<ref name=conner305>Conner & Sparks (1998), p. 305, "Shiva"</ref><ref name=conner67>Conner & Sparks (1998), p. 67, "Ardhararishvara "</ref><ref name=Vanita69>Vanita, p. 69</ref><ref name=Vanita94>Vanita, p. 94</ref><ref name=Vanita94>Vanita, p. 94</ref><ref name=BLSmith5>Smith, B.L., p. 5, ''Legitimation of Power in South Asia''</ref> Também há seres não divinos que passam por mudanças de sexo por meio da intervenção dos deuses, como resultado de maldição ou bênção, ou ainda como resultado natural de sua [[reencarnação]].

A mitologia hindu contém numerosos incidentes em que as interações sexuais servem para uma finalidade não sexual, sagrada e, em alguns casos, essas interações ocorrem com seres do mesmo sexo. Por vezes tais interações são condenadas pelos deuses, e em outros momentos eles abençoam casais homossexuais.<ref name=Pattanaik99>Pattanaik (2001), p. 99</ref><ref name=Vanitu100>Vanita & Kidwai (2001), pp. 100–102.</ref>

Além das histórias de sexo e de variação sexual — que geralmente são aceitas pelo [[hinduísmo]] — os estudiosos modernos e ativistas ''gays'' também destacam temas LGBT em textos menos famosos e menores ou mesmo apontam referências LGBT em histórias que, tradicionalmente, acredita-se que não tenham conotação homoerótica. Essas análises têm causado divergências sobre o verdadeiro significado das histórias hindus mais antigas.<ref name=Greenberg307>Greenberg, p. 307</ref><ref name=vanitu>Vanita & Kidwai (2001)</ref>

=== Budista ===
Muitas leis morais budistas surgem de contos tradicionais e lendas, e isso inclui o caso da visão budista quanto às pessoas LGBT. Por exemplo, as regras monásticas que proíbem o clero do ''sexo variante'' em algumas seitas são derivadas de interpretações do épico ''[[Mahavagga]]'': na seção Pandakavathu dessa obra, contos sobre "pandaka" (pessoas de gênero ou sexo variante) são citados. Em uma das mais famosas, um Pandaka aborda um grupo de [[monge]]s e, em seguida, um grupo de novatos, e finalmente caçadores de elefantes, pedindo a todos esses que "corrompessem" ela/ele. Embora tivesse sido rejeitado(a) e fosse expulso(a), os encontros criaram um etos de insinuação acerca dos monges, fazendo com que o [[Buda]] barrasse pandakas do clero. Subsequentemente os pandakas foram vistos de forma negativa por alguns textos.<ref>Cabezón, pp. 207–208</ref> Esta crítica, contudo, não se aplicava aos leigos, e existem muitas histórias budistas retratando pandakas mais positivamente. Alguns textos considerem como pandakas apenas travestis e eunucos, outros citam como pandakas qualquer pessoa compulsivamente propícia à conduta sexuais inapropriadas.(incluindo-se aí homossexuais e heterossexuais).
[[Imagem:Daienin Kannon.JPG|thumb|esquerda|150px|Estátua de [[Kuan Yin|Kuan]] no [[Monte Koya]], Japão]]

Segundo alguns acadêmicos, nas estórias não canônicas do [[Jataka]] (contos do [[folclore indiano]], relatos sobre as vidas anteriores do Buda) as narrativas em que o Buda quase sempre possui um companheiro do sexo masculino; em alguns contos as almas dos dois amantes estavam reencarnadas como pares de animais, "em ruminação, juntos e aconchegados, muito felizes, com a cabeça, o focinho e o chifre encostados no do outro".<ref name=Greenberg303>{{harvp|Greenberg|2007|loc= p. 303, "Homosexuality in Buddhism"}}</ref> Embora não se refiram a atividades sexuais, essas relações entre homens mostram seus lados afetivos e amorosos, e contrastam com as diversas narrativas sobre casamentos infelizes e dificultosos com uma esposa de má gênio. Entretanto outros estudiosos apontam as estórias do Jakata como referentes ao amor entre irmãos, não entre amantes.<ref name=Greenberg303/><ref name="Não_nomeado-yIYk-2">{{citar livro|último = harvey |primeiro = peter |título= An Introduction to Buddhist Ethics |publicado= Cambridge University Press |ano= 2000 | isbn = 9780511800801 |páginas=421-}}</ref>

Budistas influentes como Vasubandhu e Asanga postularam pandakas como não capazes de seguir os preceitos monásticos ou leigos ou integrar a comunidade eficazmente. Shantideva e Àsvaghosa também citaram a homossexualidade como má conduta sexual. Shantideva embasou-se em citações do Sutra Saddharma-smrtyupasthana. De forma semelhante, textos budistas como o [[Sutra do lótus]] restringem a aproximação dos budistas  e o ensino do Darma aos sexualmente divergentes.<ref>{{Citar livro|url=http://worldcat.org/oclc/19106841|título=L'abhidharmakośa.|ultimo=Vasubandhu.|data=1923–1931|editora=P. Geuthner|oclc=19106841}}</ref><ref name="Não_nomeado-yIYk-3">Cutler/Newland ''The Great Treatise On The Stages Of The Path To Enlightnment'' p.220</ref><ref name="Não_nomeado-yIYk-2"/><ref>[http://www.tibet.ca/en/newsroom/wtn/archive/old?y=1999&m=5&p=25_1]</ref><ref>[[Lotus Sutra]]: Leon Hurvitz, trans., ''Scripture of the Lotus Blossom of the Fine Dharma'' (New York: Columbia University Press, 1976), p. 209</ref><ref>[[Milinda Panha]], 100 BC. p. 310.</ref>

No tradicional [[Theravada|Budismo Therevada]] da [[Tailândia]], diz-se que a homossexualidade é "consequência [[Carma|cármica]] de violar proibições budistas contra a má conduta heterossexual em uma encarnação anterior".<ref>Jackson, 1995, p.140-153.</ref> Os budistas tailandeses também acreditam que o discípulo [[Ananda]] teria reencarnado várias vezes como mulher, e que, em alguma de suas vidas pretéritas, foi um ser transgênero.<ref name=Greenberg303/> Numa das histórias sobre uma de suas vidas anteriores, Ananda teria sido um solitário [[iogue]] que era apaixonado por uma [[Naga (mitologia)|Naga]], serpente rei do folclore indiano, que, transformando-se num belo rapaz, teve relações sexuais com ele, que teve de terminar o contato para não se desviar dos assuntos espirituais.<ref name=Greenberg303/>

Citando os comentarios de Asanga e Vasubandhu, budistas tibetanos historicamente influentes como Gampopa, Longchempa e Je Tsongkhapa também consideraram  homossexualidade como má conduta sexual. O que também é apoiado por mestres budistas como o atual Dalai Lama.<ref>''The Great Chariot: A Treatise on the Great Perfection'' by [[Longchenpa]] (1308–1363), chapter 5. Text online: [http://www.buddhistinformation.com/tibetan/greatchariot5-1.htm 1] {{Wayback|url=http://www.buddhistinformation.com/tibetan/greatchariot5-1.htm|date=20060827193204}}, [http://www.sacred-texts.com/bud/tib/chariot.htm 2].</ref><ref name="Não_nomeado-yIYk-3"/>

De acordo com uma antiga lenda budista do Japão, o amor entre homens do mesmo sexo teria sido introduzido no país por [[Kukai]], fundador da seita Palavra Verdadeira ([[Shingon]]), grupo do budismo esotérico japonês. Historiadores, entretanto, consideram a lenda como historicamente imprecisa. O monge [[Tendai]] Genshin foi um dos poucos críticos da homossexualidade prevalente na sociedade japonesa.<ref>Cabezón, pp. 215–217</ref><ref>Faure, Bernard (1998). ''The Red Thread: Buddhist approches to sexuality'' p. 209</ref>

Alguns [[Bodisatva]]s  mudam de sexo em diferentes incarnações. Alguns associam essas mudanças à homossexualidade ou transsexualidade. [[Kuan Yin]] (Kannon),<ref>Kannon mudam de sexos em algumas tradições budistas. Conner & Sparks (1998), p. 198 e 208.</ref> [[Avalokitesvara]],<ref name=conner7>Conner & Sparks (1998), p. 7.</ref> e [[Tara (budismo)|Tara]] mudam de sexos em algumas tradições budistas.<ref name=conner7/>

{{Referências}}

== Bibliografia ==
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*{{citar livro|título=Myths and mysteries of same-sex love|último =Downing|primeiro =Christine |ano=1989|publicado=Continuum|isbn=9780826404459}}
*{{citar livro|título=Homosexuality and civilization|último =Crompton|primeiro =Louis |ano=2006|publicado=Harvard University Press|local=US |isbn=9780674022331}}
*{{citar livro|título=Celtic sexuality: power, paradigms, and passion|último =Cherici|primeiro =Peter |ano=1995|publicado=Tyrone Press|isbn=9781884723018}}
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*{{citar livro|título=The Encyclopedia of Lesbian and Gay Histories and Cultures|último =Zimmerman|primeiro =Bonnie |coautor=Haggerty,George E.|ano=1999|publicado=Taylor & Francis|isbn=9780815319207}}
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== Leitura complementar ==
*{{citar livro|título=Cassell's Encyclopedia of Queer Myth, Symbol and Spirit|último =Conner |primeiro =Randy P. |coautor=David Hatfield Sparks, Mariya Sparks|ano=1998 |publicado=Cassell |local=UK |isbn=0304704237}}
*{{citar livro|título=Gay Witchcraft: Empowering the Tribe|último =Penczak|primeiro =Christopher |ano=2003|publicado=Weiser|isbn=9781578632817}}
*{{citar livro|título=Encyclopedia of Love in World Religions|último =Greenberg|primeiro =Yudit Kornberg  |ano=2007|publicado=ABC-CLIO|isbn=9781851099801}}
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