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Revisão das 20h44min de 23 de setembro de 2015
![](https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/f/f9/100_views_edo_027.jpg/250px-100_views_edo_027.jpg)
Cem vistas de Edo (
Hiroshige foi um grande paisagista, um dos melhores do seu tempo, plasmando em imagens de forma lírica e emotiva os lugares mais belos e conhecidos do Japão, especialmente da sua capital, Edo, actualmente Tóquio. Nesta série de obras apresentou os lugares mais emblemáticos da cidade, recentemente reconstruída após o terramoto devastador de 1855. Hiroshige não mostrou os efeitos da destruição, mas sim uma forma idealizada e optimista da urbe, pretendendo infundir à população um estado de espírito e jovialidade e vitalidade. Ao mesmo tempo, a série oferecia ao público uma perspectiva de actualidade, de periódico onde vislumbrar as novidades da reconstrucção da cidade. As estampas apresentam também cenas sociais, rituais e costumes da população local, juntando à paisagem a descrição pormenorizada de pessoas e diversos ambientes locais.[1]
História
![](https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/b1/Edo_1844-1848_Map.jpg/200px-Edo_1844-1848_Map.jpg)
Durante o período Edo, o Japão foi pelos xogums da família Tokugawa, que fechou o país a todo o contacto exterior, o sakoku: os cristiãos foram perseguidos e os comerciantes europeus expulsos. Este período marcou uma era de paz e prosperidade após as guerras civis ocorridas durante os séculos XV e XVI: entre 1573 e 1603, o Período Azuchi-Momoyama, ocorreu a unificação do país pela força deOda Nobunaga, Toyotomi Hideyoshi e Tokugawa Ieyasu, que eliminaram os daimyō (senhores da guerra de origem feudal) e criaram um estado centralizado. A capital estabeleceu-se em Edo (
Edo converteu-se num núcleo albergando uma classe média próspera, embora coexistindo com o sistema de vassalagem, proliferou o comércio e o artesanato, criando uma classe burguesa que cresceu em poder e influência, e que fomentou as artes, especialmente gravuras, cerâmica, laca e produção têxtil. Assim, deu-se um grande desenvolvimento na produção de gravuras em madeira, surgindo uma importante indústria especializada em textos ilustrados e estampas. De início gravava-se em tinta negra (sumi-e) sobre papel colorido à mão, mas em miados do século XVIII surgiou a impressão a cor (nishiki-e).[4]
Estilo
![](https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/8b/Ukiyo-e_dsc04680.jpg/250px-Ukiyo-e_dsc04680.jpg)
A escola ukiyo-e (
O seu fundador foi Hishikawa Moronobu, a quem se seguiram figuras como Okumura Masanobu, Suzuki Harunobu, Isoda Koryūsai e Torii Kiyonobu, fundador da escola Torii. Vários artistas especializaram-se na reprodução dos actores do teatro popular japonês kabuki –yakusha-e (
O autor
![](https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/c/cf/Portrait_%C3%A0_la_m%C3%A9moire_d%27Hiroshige_par_Kunisada.jpg/200px-Portrait_%C3%A0_la_m%C3%A9moire_d%27Hiroshige_par_Kunisada.jpg)
Utagawa Hiroshige (
As estampas de Hiroshige tiveram um óptimo acolhimento no Ocidente – aonde surgiu a moda do japonismo –, sendo uma influência na obra de vários artistas: como está evidenciado em algumas obras da década de 1870 de James Abbott McNeill Whistler, como Thames set ou Pinturas nocturnas. Também impressionou em larga medida o pintor neerlandês Vincent van Gogh, que copiou várias obras de Hiroshige, como Japonaiserie: A Ponte Debaixo de Chuva (1887) – cópia de A Ponte Ōhashi em Atake debaixo de Aguaceiro Repentino– e Japonaiserie: Ameixeira em Flor (1887) – cópia de Jardim de Ameixeiras em Kameido–. Van Gogh chegou a afirmar em 1888: «com olhos japoneses vê-se mais; sente-se a color de um modo diferente».[9] A obra de Hiroshige foi também amplamente difundida pela revista Le Japon Artistique (1888-1891), editada por Samuel Bing.[10]
Referências
- ↑ Trede & Bichler 2010, pp. 15-16.
- ↑ Trede & Bichler 2010, p. 16.
- ↑ Trede & Bichler 2010, p. 11.
- ↑ Stanley-Baker 2000, pp. 152-153.
- ↑ Honour & Fleming 2002, p. 706.
- ↑ Fahr-Becker 2007, pp. 7-22.
- ↑ «Ando Hiroshige». Consultado em 29 de janeiro de 2011
- ↑ Schlombs 2010, pp. 92-95.
- ↑ Schlombs 2010, p. contraportada.
- ↑ Schlombs 2010, pp. 85-91.
- ↑ Trede & Bichler 2010, p. 23.
- Notas
- ↑ A tradução pode ser «estampas do mundo flutuante» ou «estampas do mundo que flui», existindo uma divergência entre os historiadores sobre a origen do termo: alguns defendem que seria pelo uso da perspectiva linear de origem ocidental, que faria parecer a imagem como se «flutuasse» (estes quadros eram chamados uki-e, «quadros flutuantes»); outros indicam que se trata de uma metáfora pela sensação de flutuar, de deixar-se levar, segundo o conceito budista de vida como um fenómeno efémero, fugaz, como se expressa no seguinte texto: «Só vivemos para o instante em que admiramos o esplendor do luar, a neve, as cerejeiras em flor e as folhas multicolores do bordo. Disfrutamos o dia excitados pelo vinho, sem que nos desiluda a pobreza, olhando-nos fixamente nos olhos. Deixamo-nos levar – como una cabaça arrastrada pela corrente do rio – sem perder o ânimo nem por um instante. É a isto que se chama o mundo que flui, o mundo passageiro.»
- ↑ Utagawa Hiroshige era o pseudónimo artístico de Ando Tokutaro, filho de Ando Genuemon, um capitão dos bombeiros (hikeshi doshin) samurai. No Japão, era frequente os artistas tomarem um nome artístico distinto do seu, com o apelido representando a escola a que perteneciam – no caso a escola Utagawa – e o nome próprio – pelo qual eram mais conhecidos – formava-se com recurso a prefixos e sufixos que passavam do mestre para o discípulo: assim Hirosigue (hiro liberalidade, shige = abundância; «abundante liberalidade») incluiu o elemento hiro do seu mestre, Utagawa Toyohiro. Schlombs 2010, p. 47.
- Bibliografia
- Fahr-Becker, Gabriele (2007). Grabados japoneses. [S.l.]: Taschen, Köln. ISBN 978-3-8228-3480-0
- Honour, Hugh; Fleming, John (2002). Historia mundial del arte Ed. Akal, Madrid ed. [S.l.: s.n.] ISBN 84-460-2092-0
- Satō, Tomoko (2009). Arte japonés. [S.l.]: Lisma, Madrid. ISBN 978-84-92447-25-1
- Schlombs, Adele (2010). Hiroshige. [S.l.]: Taschen, Köln. ISBN 978-3-8365-2357-8
- Stanley-Baker, Joan (2000). Arte japonés. [S.l.]: Destino, Madrid. ISBN 84-233-3239-X
- Trede, Melanie; Bichler, Lorenz (2010). Cien famosas vistas de Edo. [S.l.]: Taschen, Köln. ISBN 978-3-8365-2148-2
Ligações externas
- (em inglês) Brooklyn Museum