Dez Mandamentos
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Nas religiões abraâmicas, os Dez Mandamentos (em hebraico: עֲשֶׂרֶת הַדִּבְּרוֹת, Aseret ha'Dibrot), também conhecidos como Decálogo, são um conjunto de princípios relacionados à ética e à adoração. Os mandamentos aparecem duas vezes na Bíblia hebraica (no Êxodo e no Deuteronômio) e incluem instruções como a de não adorar outros deuses, honrar os pais e guardar o Sabá, bem como proíbem idolatria, blasfêmia, assassinato, adultério, roubo, desonestidade e cobiça. Dependendo de cada tradição religiosa, os mandamentos podem ser numerados e interpretados de forma diferente. Os estudiosos contemporâneos veem prováveis influências em leis e tratados hititas e mesopotâmicos.
Bíblia
[editar | editar código-fonte]A primeira aparição dos mandamentos na Bíblia é em Êxodo 20:1–17, em que Deus os dita diretamente a Moisés no Monte Sinai. Na segunda, em Deuteronômio 5:5–21, Moisés, depois de ter com Deus no Monte Horebe, retransmite os mandamentos aos hebreus. De acordo com a narrativa bíblica, os mandamentos foram escritos em duas tábuas de pedra pelo dedo de Deus (Ex 31:18). Mais tarde, Moisés quebra as tábuas ao ver o povo adorando o Bezerro de Ouro (Ex 32:1–19), mas um par reserva é fornecido (Ex 34:1). Em nenhuma dessas ocasiões, a expressão "dez mandamentos" é utilizada; isso ocorre apenas em outras passagens (Ex 34:28, Dt 4:13, Dt 10:4).
1 - Não terás outros deuses em desafio a mim.
2 - Não farás para ti imagem de escultura e não os adorarás. … Não te prostrarás diante deles nem os servirás, …
3 - Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão.
4 - Lembra-te do dia de sábado para santificá-lo. Trabalharás 6 dias e neles realizarás todos os teus serviços. Contudo, o sétimo dia é o sábado, consagrado por Jeová teu Deus.
5 - Honra teu pai e tua mãe, a fim de que venhas a ter vida longa na terra que Jeová teu Deus te dá.
6 - Não matarás.
7 - Não adulterarás.
8 - Não furtarás.
9 - Não darás falso testemunho contra o teu próximo.
10 - Não cobiçarás a casa do teu próximo, nem sua mulher, nem seus servos e servas, nem seu boi ou jumento, nem coisa alguma que lhe pertença.
Agrupamentos
[editar | editar código-fonte]Os mandamentos em Êxodo 20:3–17 contêm, na verdade, dezenove declarações. Flávio Josefo agrupa-os assim: Primeiro Mandamento (versículo 3), Segundo Mandamento (versículos 4 a 6), Terceiro Mandamento (versículo 7), Quarto Mandamento (versículos 8 a 11) e Quinto Mandamento ao Décimo Mandamento (versículos 12 a 17, um versículo por Mandamento).[1] Outros, inclusive Agostinho, Bispo de Hipona,[carece de fontes] consideravam os versículos 3 a 6 um só mandamento, mas dividiam o versículo 17 em dois mandamentos: contra cobiça da mulher alheia (Nono) e contra as demais cobiças (Décimo). A Igreja Católica adotou o agrupamento de Agostinho.[2] O agrupamento primordial, em consistência ontológica, é o da ordem original talmúdica.[necessário esclarecer]
Judaísmo
[editar | editar código-fonte]O Judaísmo guarda a apresentação mandamental apresentada acima, conforme a coluna que exibe sua particular concepção (TAV – versão talmúdica), observando, naturalmente, com inteiro rigor, a prescrição sabática como sendo o quarto mandamento. Judaísmo messiânico, por seu turno, consiste numa vertente do Judaísmo que acolheu e reconheceu Jesus Cristo, alguns guardando o sábado, outros, o domingo. Além disso, segundo o Judaísmo, a transgressão de apenas um dos 613 mandamentos da Lei infringe toda a Lei, porque é um "conjunto orgânico e indissociável", e a pessoa que o infligiu cometeu pecado, como está escrito em Tiago capítulo 2, versículo 10: "Qualquer que guardar toda a Lei mas tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos".[3]:439
Cristianismo
[editar | editar código-fonte]Conforme já exposto, a apresentação dos Dez Mandamentos observou uma estrutura bem definida, qual exibida originariamente no Livro de Êxodo e reapresentada no Livro de Deuteronômio, com, basicamente, a mesma forma e o mesmo teor. Seu agrupamento temático (conforme os assuntos ou temas espirituais e morais tratados) tem recebido diferentes apreciações, bem como conforme as conveniências de igrejas cristãs variadas.
Segundo S.Lucas, Jesus disse que "(…) convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, e nos Profetas, e nos Salmos."[4]
Catolicismo
[editar | editar código-fonte]Segundo a doutrina católica, os Dez Mandamentos sintetizam todas as prescrições do Antigo Testamento. Já a "Nova Lei", exposta por Jesus no Sermão da Montanha, é a base e o fundamento da moral católica, e a igreja exige dos fiéis o cumprimento destas regras. Os Mandamentos "enunciam deveres fundamentais do homem para com Deus e para com o próximo e para com a Igreja".[3]:438, 440 A fórmula de catequese dos Dez Mandamentos proposta pelo Compêndio do Catecismo da Igreja Católica segue a divisão dos mandamentos estabelecida por Agostinho:[5]
- 1.º - Adorar a Deus e amá-lo sobre todas as coisas.
- 2.º - Não usar o Santo Nome de Deus em vão.
- 3.º - Santificar os Domingos e festas de guarda.
- 4.º - Honrar pai e mãe (e os outros legítimos superiores).
- 5.º - Não matar (nem causar outro dano, no corpo ou na alma, a si mesmo ou ao próximo)
- 6.º - Guardar castidade nas palavras e nas obras.
- 7.º - Não furtar (nem injustamente reter ou danificar os bens do próximo).
- 8.º - Não levantar falsos testemunhos (nem de qualquer outro modo faltar à verdade ou difamar o próximo)
- 9.º - Guardar castidade nos pensamentos e desejos.
- 10.º- Não cobiçar as coisas alheias.
Jesus e a Nova Lei
[editar | editar código-fonte]Ainda segundo o catecismo católico, ao anunciar o Evangelho e o Reino de Deus, Jesus deu o sentido último às verdades reveladas por Deus ao longo do Antigo Testamento e renovou a aliança entre Deus e os homens, instaurando assim a Nova Aliança.[3]:8, 9, 120 Para Jesus, toda a Lei de Deus resume-se no mandamento do amor a Deus e ao próximo: "Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente. Este é o maior e o primeiro dos mandamentos. E o segundo é semelhante ao primeiro: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos depende toda a Lei e os Profetas" (Mt 22:37–40).[3]:435, 437
Protestantismo
[editar | editar código-fonte]O Protestantismo concorda, em geral, com a estrutura mandamental original talmúdica, divergindo apenas no que se refere à composição do primeiro mandamento (cf. Ex 20:2), que, às igrejas protestantes em maioria, corresponde a Ex 20:2–3 e, consequentemente, à composição do segundo mandamento (o qual, para o Talmude, corresponde a Ex 20:3–4). A partir do terceiro mandamento, as concepções talmúdica e protestante reformada sobre o Decálogo coincidem.
Os mandamentos segundo diferentes tradições
[editar | editar código-fonte]A passagem em Êxodo 20:1–17 contém mais de dez declarações — dezenove no total. A tabela a seguir mostra os versículos segundo a versão Bíblia King James Atualizada online e como eles são interpretados por diferentes tradição religiosas, não apenas judaicas ou cristãs. Alguns sugerem que o número dez é apenas uma opção para auxiliar a memorização, em vez de uma questão de teologia.[6]
Tradições:
- Todas as citações das escrituras acima são da Bíblia King James. Clique nos versos no topo das colunas para outras versões.
- LXX: versão Septuaginta, geralmente seguida por cristãos ortodoxos.
- FDA: versão de Filo de Alexandria, basicamente idêntica à Septuaginta, mas com os mandamentos de "não matar " e de "não adulterar" invertidos. * SPT: versão do Pentateuco Samaritano ou Torá Samaritana, com um mandamento adicional sobre o Monte Gerizim como sendo o décimo.
- TAV: versão do Talmude judaico, faz do "prólogo" o primeiro "ditado" ou "matéria" e combina a proibição de adorar outras divindades além de Javé com a proibição da idolatria.
- AHV: versão de Agostinho, segue o Talmude, ao combinar os versículos 3–6, mas omite o prólogo como um mandamento e divide a proibição de cobiçar em dois e segue a ordem de palavras de Dt 5:21 em vez da de Ex 20:17.
- LTV: versão da Igreja Luterana, segue o Catecismo Maior de Lutero, que segue Agostinho, mas omite a proibição das imagens e usa a ordem das palavras de Ex 20:17, em vez das de Dt 5:21 para o nono e décimo mandamentos.
- PRC: visão da Igreja Calvinista, segue os Institutos da Religião Cristã de João Calvino, que segue a Septuaginta; esse sistema também é usado no Livro Anglicano de Oração Comum.[8]
Notas e referências
Notas
- ↑ Eu Sou Javé, o SENHOR, teu Deus, que te fez sair da terra do Egito, da casa da escravidão!
- ↑ Não terás outros deuses além de Mim
- ↑ "Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem esculpida, nada que se assemelhe ao que existe lá em cima, nos céus, ou embaixo na terra, ou mesmo nas águas que estão debaixo da terra. Não te prostrarás diante desses deuses e não os servirás, porquanto Eu, o SENHOR teu Deus, sou um Deus ciumento, que puno a iniquidade dos pais sobre os filhos até a terceira e quarta geração dos que me odeiam, mas que também ajo com amor até a milésima geração para aqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.
- ↑ Não pronunciarás em vão o Nome de Javé, o SENHOR teu Deus, porque Javé não deixará impune qualquer pessoa que pronunciar em vão o Seu Nome.
- ↑ (4)/sab e (3 ou 4)/dom significam, respectivamente, os dias de sábado ou domingo, considerados de observância devida para o mandamento do shabbãth, por parte da confissão religiosa citada. O número "3" significa que a fé em causa considera-o como terceiro mandamento e o número "4", como o quarto mandamento. O Cristianismo, em suas igrejas de modo geral (exceto as de confissão sabatista, como a Igreja Adventista do Sétimo Dia, entre outras) entende o dia de domingo como O Dia do Senhor na Nova Aliança, pois foi o dia em que Jesus Cristo ressuscitou ("o terceiro dia").[7]
- ↑ Lembra-te do dia do shabbãth, sábado, para santificá-lo. Trabalharás seis dias e neles realizarás todos os teus serviços. Contudo, o sétimo dia da semana é o shabbãth, sábado, consagrado a Javé, teu Deus. Não farás nesse dia nenhum serviço, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu escravo, nem tua escrava, nem teu animal, nem o estrangeiro que estiverem morando em tuas cidades. Porquanto em seis dias Eu, o SENHOR, fiz o céu, a terra, o mar e tudo o que há neles, mas no sétimo dia descansei. Foi por esse motivo que Eu, o SENHOR, abençoei o shabbãth, sábado, e o separei para ser um dia santo.
- ↑ Guardarás o dia do Shabbãth, sábado, a fim de santificá-lo, conforme o SENHOR, o teu Deus, te ordenou. Trabalharás seis dias e neles cumprirás todos os teus afazeres; o sétimo dia, porém, é um Shabbãth, sábado, de Javé, teu Deus. Nesse dia não farás obra ou trabalho algum, nem tu nem teu filho ou filha, nem o teu servo ou serva, nem o teu boi, teu jumento ou qualquer dos teus animais, nem o estrangeiro que estiver vivendo em tua propriedade, para que o teu servo e a tua serva descansem como tu. Recorda que foste escravo na terra do Egito, e que Javé, teu Deus, te libertou e tirou de lá com mão poderosa e com braço forte. Por isso o Eterno, o teu Deus, te ordenou guardar o dia de Shabbãth, sábado.
- ↑ Honra teu pai e tua mãe, a fim de que venhas a ter vida longa na terra que Javé, o teu Deus, te dá.
- ↑ Honra teu pai e tua mãe, conforme te ordenou o SENHOR, o teu Deus, a fim de que tenhas longa vida e tudo te vá bem na terra que Javé teu Deus te concede.
- ↑ O Judaísmo afirma que essa é uma referência ao furto em geral, embora alguns, com base em Lv 19:11 e na hermenêutica talmúdica (דבר הלמד מעניינו, Davar ha-lamed me-inyano ="O que ensina seu interesse" (Ex 20:17) sugiram ser apenas furto de propriedade.
Referências
- ↑ Josefo, Flávio. Antiquitates Judaicae. 3. [S.l.: s.n.] pp. Cap. 5 §5
- ↑ «Catecismo da Igreja Católica. Parágrafo 2066». www.vatican.va. Consultado em 1 de novembro de 2021
- ↑ a b c d Igreja Católica (2000). Compêndio do Catecismo da Igreja Católica. Coimbra: Gráfica de Coimbra. ISBN 972-603-349-7
- ↑ «Bible Gateway passage: Lucas 24:44 - Almeida Revista e Corrigida 2009». Bible Gateway (em inglês). Consultado em 18 de setembro de 2023
- ↑ «Segunda Seção - Os Dez Mandamentos». Catecismo da Igreja Católica - Compêndio. Libreria Editrice Vaticana. 2005. Consultado em 11 de novembro de 2020
- ↑ Chan, Yiu Sing Lúcás (2012). The Ten Commandments and the Beatitudes: Biblical Studies and Ethics for Real Life (em inglês). [S.l.]: Rowman & Littlefield. pp. 38, 241
- ↑ São Clemente; São Policarpo; São Papias (2000). «LXVII.—Weekly worship of the Christians». Ante-nicene Fathers. 1: The Apostolic Fathers with Justin Martyr and Irenaeus. traduzido por Phillip Schaff. [S.l.: s.n.]
- ↑ Fincham, Kenneth; Lake, Peter (editors) (2006). Religious Politics in Post-reformation England. Woodbridge, Suffolk: The Boydell Press. p. 42. ISBN 1-84383-253-4