Apolônia (Ilíria)
Apolônia Apollonia | |
---|---|
Ruínas do Templo de Apolônia (Monumento de Agonoteta) | |
Localização atual | |
Localização da Apolônia na Albânia | |
Coordenadas | |
País | Albânia |
Prefeitura | Fier |
Dados históricos | |
Fundação | século VII a.C. |
Início da ocupação | Antiguidade Clássica |
Colônia | grega |
Notas | |
Acesso público |
Apolônia (em grego: Ἀπολλωνία
História
[editar | editar código-fonte]A cidade da Apolônia estava localizada na Ilíria,[1][2][3] 10 estádios da margem direita do rio Aoos e 60 estádios, ou 50 segundo Cílax de Carianda, do mar,[4] no território dos taulâncios, um aglomerado de tribos ilírias que permaneceu intimamente envolvido com o assentamento por séculos e viveu junto com os colonos gregos.[5] Diz-se que tinha sido originalmente chamada Gilaceia em honra a seu fundador, Gílax,[6] mas o nome foi depois alterado em honra ao deus Apolo.[7] Foi fundada sobre um sítio inicialmente ocupado por ilírios[8][9] no século VII a.C. por colonos gregos de Corfu e Corinto,[4] embora o primeiro relato da presença deles é de 588 a.C..[10]
É mencionado por Estrabão em sua Geografia como "uma cidade governada excessivamente".[6] Aristóteles considerou-a um importante exemplo[11] dum sistema oligárquico, como os descendentes dos colonos gregos controlando-a e prevalecendo sobre uma grande população serva de majoritária origem ilíria. A cidade enriqueceu com o comércio escravo e agricultura local, bem como por seu grande porto, dito como tendo sido capaz de abrigar uma centena de navios ao mesmo tempo. Ela também beneficiou-se pelo suprimento local de asfalto,[11][12] uma mercadoria valiosa em tempos antigos, por exemplo, para navios de calafetagem. Os restos dum templo do final do século VI, localizado acima da cidade, foram descobertos em 2006, o quinto templo de pedra conhecido encontrado na atual Albânia.[13]
Apolônia, como Dirráquio mais ao norte, foi um importante porto na costa ilíria com a mais conveniente ligação entre Brundísio e o Norte da Grécia, sendo junto com a segunda um dos pontos ocidentais iniciais da Via Egnácia[14] que levou a leste para Tessalônica, na Calcídica, e então Bizâncio na Trácia. Segundo o Itinerário de Antonino localiza-se a 49 milhas romanas de Claudiana (atual Peqin), o ponto de encontro entre o percurso de Dirráquio e Apolônia.[15] Tinha sua própria cunhagem, estampando moedas que mostravam uma vaca amamentando seu filhote no anverso e um padrão estrelado duplo no reverso,[16] que foram encontradas tão longe quando a bacia do Danúbio.
Entre 284-283 a.C., a cidade e o sul da Ilíria foram conquistadas por Pirro do Epiro (r. 306-302; 297-272 a.C.), permanecendo por algum tempo sob seu controle.[17] Em 229 a.C., tornou-se parte da República Romana, a quem foi firmemente leal. Em 168 a.C., foi recompensada com butim obtido de Gêncio, o derrotado rei da Ilíria. Em 148 a.C., tornou-se parte da província romana da Macedônia, especificadamente do Novo Epiro.[18] Pelo fim da república, Apolônia foi celebrada como uma sede de aprendizagem e muitos dos nobres romanos enviaram seus filhos para estudarem literatura e filosofia gregas. Durante a Guerra Civil Cesariana (49-45 a.C.) entre Júlio César e Pompeu, foi mencionada como uma cidade fortificada com uma cidadela e foi de grande importância para a campanha de César na Grécia,[4] embora tenha sido capturada por Marco Júnio Bruto em 48 a.C.. Otaviano, filho adotivo de César e futuro imperador Augusto (r. 27 a.C.–14 d.C.), estudou em Apolônia por seis meses sob tutela de Atenodoro de Tarso,[19] até partir para Roma devido o assassinato de César.[20][21][22][23]
Apolônia floresceu sob governo romano e foi mencionada por Cícero em suas Filípicas como magna urbs et gravis, uma grande e importante cidade.[4] O Cristianismo foi estabelecido na cidade precocemente, e os bispos locais estiveram presentes no Primeiro Concílio do Éfeso (431)[24] e o Concílio da Calcedônia (451).[25] Seu declínio, contudo, começou no século III, quando um terremoto mudou o curso do Aoos, causando o assoreamento do porto e o surgimento dum pântano, foco de surtos endêmicos de malária. Tornou-se amplamente desabitada a medida que o pântano aumentou, e a vizinha Avlona (atual Vlora) cresceu em importância. Pelo fim da Antiguidade Tardia, a cidade estava praticamente despovoada, hospedando apenas uma pequena comunidade cristã.[26][27] Essa comunidade (que provavelmente era parte do sítio da antiga cidade)[14] construiu na colina vizinha a Igreja de Santa Maria (em albanês: Shën Mëri), parte do Mosteiro Ardenica.
Sé episcopal
[editar | editar código-fonte]Um dos participantes do Concílio do Éfeso em 431 foi um Félix que assinou uma vez como bispo de Apolônia e Búlis, e outra como bispo de Apolônia. Alguns assumem que as duas cidades formaram uma única sé episcopal, enquanto outros supõem que ele foi, a rigor, bispo apenas da primeira, mas esteve temporariamente no comando de Búlis durante a vacância daquela sé. Um dos participantes num concílio presidido em Constantinopla em 448 assinou como Paulus Episcopus Apolloniada al. Apolloniatarum, civitatis sanctae ecclesiae, mas é incerto se esteve associado com esta Apolônia.[28][29][30]
No Concílio da Calcedônia de 451, Eusébio assinou simplesmente como bispo de Apolônia. Nas cartas dos bispos do Novo Epiro ao imperador bizantino Leão I, o Trácio (r. 457–474) em 458, Filócaro assinou como bispo do que os manuscritos chamam "Valido", e que editores pensam que deveria ser uma variação de Búlis. Se Filócaro é também considerado bispo de Apolônia, depende sobre a interpretação da posição de Félix em 431.[30][28][29] O Anuário Pontifício lista Apolônia como uma sé titular, assim reconhecendo que foi certa vez uma diocese residencial, uma sufragânea da do arcebispo de Dirráquio.[31] Ela não garante tal reconhecimento para Búlis.[32]
Referências
- ↑ Wilkes 1995, p. 96.
- ↑ Wilson 2006, p. 594.
- ↑ Chamoux 2003, p. 97.
- ↑ a b c d Smith 1870a, p. 160.
- ↑ Wilkes 1995, p. 98.
- ↑ a b Hansen 2004, p. 328.
- ↑ Tsetskhladze 2008, p. 169.
- ↑ Hammond 1976, p. 426.
- ↑ Larson 2001, p. 162.
- ↑ Wilkes 1995, p. 96–98.
- ↑ a b Estrabão século I, 7.8.316.
- ↑ Aristóteles século IV a.C., 842 b.27.
- ↑ «Researchers Discover Greek Temple In Albania Dating Back To 6th Century B.C.» (em inglês). Consultado em 13 de janeiro de 2015
- ↑ a b «Apollonia» (em inglês). Consultado em 14 de janeiro de 2015
- ↑ Smith 1870a, p. 1298.
- ↑ «Illyria, Apollonia - Ancient Greek Coins» (em inglês). Consultado em 15 de janeiro de 2015
- ↑ Garouphalias 1979, p. 213.
- ↑ Bowden 2003, p. 14.
- ↑ Smith 1870b, p. 404.
- ↑ Suetônio 121, 10.
- ↑ Eck 2003, p. 9.
- ↑ Apiano século II, 3.9–11..
- ↑ Rowell 1962, p. 16.
- ↑ Millar 2006, p. 18.
- ↑ Phillips 1820, p. 19.
- ↑ Nagel 1990, p. 130.
- ↑ Lonely Planet 2009, p. 59.
- ↑ a b Coleti 1817, p. 395-396.
- ↑ a b Lequien 1740, col. 248-249.
- ↑ a b «Byllis» (em inglês). Consultado em 15 de janeiro de 2015
- ↑ Vaticano 2013, p. 835.
- ↑ Vaticano 2013, p. 819-1013.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Apiano (século II). As Guerras Civis 🔗. [S.l.: s.n.]
- Aristóteles (século IV a.C.). Das Maravilhosas Coisas Ouvidas. [S.l.: s.n.]
- Bowden, William (2003). Epirus Vetus: The Archaeology of a Late Antique Province. Londres, Reino Unido: Duckworth. ISBN 0-7156-3116-0
- Chamoux, François (2003). Hellenistic Civilization. Oxford, Reino Unido: Blackwell Publishing. ISBN 0-631-22242-1
- Coleti, Daniele Farlati-Jacopo (1817). Illyricum Sacrum, vol. VII. Veneza: [s.n.]
- Eck, Werner (2003). Deborah Lucas Schneider (tradutora); Sarolta A. Takács (mais conteúdo), ed. The Age of Augustus. Oxford: Blackwell Publishing. ISBN 978-0-631-22957-5
- Estrabão (século I). Geografia. [S.l.: s.n.]
- Garouphalias, Petros (1979). Pyrrhus King of Epirus. [S.l.]: Stacey International. ISBN 090574313X
- Hammond, Nicholas Geoffrey Lemprière (1976). Migrations and Invasions in Greece and Adjacent Areas. Park Ridge, Nova Jérsei: Noyes Press. ISBN 0-8155-5047-2
- Hansen, Mogens Herman; Nielsen, Thomas Heine (2004). An Inventory of Archaic and Classical Poleis. Oxford, Reino Unido: Oxford University Press. ISBN 0-19-814099-1
- Larson, Jennifer Lynn (2001). Greek Nymphs: Myth, Cult, Lore. Oxford, Reino Unido: Oxford University Press. ISBN 0-19-514465-1
- Lequien, Michel (1740). Oriens christianus in quatuor Patriarchatus digestus. II. [S.l.]: Parigi
- Lonely Planet (2009). Mediterranean Europe. [S.l.: s.n.]
- Millar, Fergus (2006). A Greek Roman Empire: Power and Belief Under Theodosius II, 408-450. [S.l.]: University of California Press. ISBN 0520941411
- Nagel (1990). Nagel's Encyclopaedia Guide - Albania. [S.l.]: Nagel Publishers
- Phillips, Sir Richard (1820). New Voyages and Travels: Consisting of Originals and Translations, Volume 4. [S.l.: s.n.]
- Rowell, Henry Thompson (1962). The Centers of Civilization Series: Volume 5; Rome in the Augustan Age. Norman: University of Oklahoma Press. ISBN 978-0-8061-0956-5
- Smith, William (1870a). Dictionary of Greek and Roman Geography. [S.l.]: Little, Brown and Company
- Smith, William (1870b). Dictionary of Greek and Roman Mythology and Biography. [S.l.]: Little, Brown and Company
- Suetônio (121). Vida de Augusto. [S.l.: s.n.]
- Tsetskhladze, Gocha R. (2008). Greek Colonisation: An Account of Greek Colonies and Other Settlements Overseas, Volume 193,Parte 2. [S.l.]: BRILL. ISBN 9004155767
- Vaticano (2013). Anuário Pontifício. [S.l.]: Libreria Editrice Vaticana. ISBN 978-88-209-9070-1
- Wilkes, John (1995). The Illyrians. Oxford, Reino Unido: Blackwell Publishing. ISBN 0-631-19807-5
- Wilson, Nigel Guy (2006). Encyclopedia of Ancient Greece. Nova Iorque, USA e Oxford, Reino Unido: Routledge (Taylor & Francis. ISBN 978-0-415-87396-3