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Fragas do Eume

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Bosque de ribeira sobre o rio Eume

As Fragas do Eume é um parque natural galego criado em 1997[1] e que abrange 9126 ha[2] nas beiras do rio Eume, concretamente nos concelhos de Cabanas, A Capela, Monfero, Pontedeume e As Pontes de García Rodríguez, todos eles da província da Corunha.

Está também declarado como Lugar de Importância Comunitária, coincidindo os seus limites com os do Parque Natural.

O bosque tradicional atlântico conservou-se na zona em todo o seu esplendor, ao contrário doutras regiões totalmente modificadas com as repovoações feitas com espécies não autóctones.

Os bosques de ribeira, dos que as Fragas do Eume são um bom exemplo, são ecossistemas de elevada biodiversidade, particularmente no que respeita à flora. Tradicionalmente foram muito explorados pelo homem pela riqueza e fertilidade dos solos, e por isso são ecossistemas pouco frequentes e conservados unicamente em zonas isoladas como estas fragas.

A árvore com mais presença no parque natural é o carvalho. É o medidor da saúde da fraga: os exemplares mais velhos existem nas zonas que sofreram uma menor pressão humana (a Fraga do Mosquiteiro ou as fragas que rodeiam o rio do Dez), e está sendo objecto de repovoação em zonas frágeis do parque, onde fora apartado recentemente pelo vidoeiro.

Também tem numerosa presença no parque o castanheiro, dominante nalgumas áreas logo de roubar-lhe terreno ao carvalho graças a medrar mais rapidamente e prover frutos de consumo humano. A bétula é a terceira das espécies maioritárias, e ocupa dois tipos de espaços: áreas tradicionais de bosque de ribeira, e zonas marginais onde os carvalhos foram perdendo distribuição, e onde medram rapidamente. Nestes espaços estão a ser substituídos por carvalhos por acção conservantista.

Nas proximidades dos rios topamos o amieiro, que suporta bem as situações de alagamento, o salgueiro (com muita menor frequência), o freixo e o pradairo (Acer pseudoplatanus). Outras espécies arbóreas das fragas são a aveleira, principalmente nas proximidades dos cursos de água; o carvalho-negral (Quercus pyrenaica), nas zonas altas das fragas de Pena Fesa, Os Cerqueiros (topónimo que reflecte a abundância desta árvore) e A Marola; o medronheiro, o loureiro, e o olmo, frequente também nas proximidades dos rios, como perto do mosteiro de Caaveiro. Também se tem assinalado a presença do lamigueiro nas fragas, uma espécie rara na zona próxima à costa. Finalmente, existe em abundância o azevinho, fundamentalmente como arbusto, mas chega a alcançar exemplares de altura e porte, o estripeiro, o abrunheiro (Prunus spinosa), a pereira e a maceira brava, esta última pouco frequente noutros lugares da província da Corunha.

Feto (Dryopteris dilatata)

A presença duma notável quantidade e variedade de fetos é uma característica destes bosques. Os mais comuns são o Blechnun spicant, a Dryopteris affinis subesp. Affinis, a Dryopteris dilatata, a Dryopteris aemula, o Polypodium interjectum, o Athyrium filix-femina, o Osmunda regalis (ou feto real), o Polystichum setiferum, o Pteridium aquilinum e a Lastraea limbosperma. Também se podem encontrar espécies de grande valor, quer pela sua escasseza ou por estar longe da sua área normal de distribuição, como a Woodwardia radicans, o Asplenium adiantum-nigrum, a Cystopteris diaphana, a Dryopteris guanchica ou a Culcita macrocarpa.[3]

Algumas destas espécies estão relacionadas com uma antiga vegetação subtropical que povoou as margens do mar de Tétis na era terciária. O calor e a humidade permitiram o desenvolvimento duma exuberante flora, similar à que na actualidade encontramos no arquipélago neozelandês ou na Florida. Porém, há dois milhões de anos, os processos de glaciação nos pólos e a desertificação nos trópicos foram recortando a distribuição dessa flora que, incapaz de se adaptar aos câmbios, ficou reduzida a zonas pequenas situadas entre os 25º e 40º de latitude: Ilhas Canárias, Ilhas Açores e Madeira, e em menor extensão nas serras de Algeciras em Cádiz ou o Parque Natural das Fragas do Eume.

Musgos e líquenes

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No estrato muscinal está presente quase a metade da flora brio-fita galega (musgos e hepáticas) particularmente importante nas zonas húmidas e sombrias, com mais de 220 espécies diferentes. Destacam-se a Cololejeunea microscopica e a Lepidozia cupresana.

A flora liquenica guarda também um notável catálogo de mais de 240 espécies, entre as que figuram três citas novas para a Europa continental. São características dos bosques maduros outras espécies menos raras mas muito ligadas a estes ecossistemas: a Lobaria scrobiculata, a Pannaria rubiginosa e a Usnea articulata.

Salamandra-de-fogo (Salamandra salamandra)
Imagem do Coruja-pequena (Asio otus) abundante no parque.

As fragas, pelo seu carácter húmido e sombrio, são um ambiente idóneo para os anfíbios. No Eume vivem 13 das 15 espécies existentes na Galiza. A salamandra é muito frequente, as massas florestais caducifólias são o seu biótopo preferido. Também estão presentes outras espécies como o sapinho comadrão, o sapo comum, a rã-ibérica (que vive nos regatos afluentes do Eume na bacia baixa, como o Sesín), e a rã vermelha, que é possível encontrar nos prados da Serra de Sanguinhedo. Nas poças estacionais encontram-se as três espécies de pinta-fontes, o comum, o tritão-palmado e mais o pinta-fontes verde, mas é especialmente valiosa a saramaganta (Chiglossa lusitanica), endemismo do noroeste ibérico que mantém nas Fragas uma das suas mais nutridas populações.

Aves e mamíferos

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Entre as aves da fraga destacam as rapazes que se alimentam de micro-mamíferos, adaptadas a caçar no interior do bosque: o açor, o peneireiro-vulgar, o gavião, o coruja-pequena, a coruja-das-torres, o mocho-galego (Athene noctua), o aluco ou coruja-do-mato, o milhafre-preto, o milhafre-real e o vespeiro-europeu. Em espaços mais abertos habita também o falcão peregrino, a águia-de-asa-redonda e o bufo real. Entre as pequenas insectívoras destacam a trepadeira-azul, a trepadeira-comum, o chapim-real, o chapim-azul, o pica-pau-malhado-grande, o pica-pau-verde, a estrelinha-de-cabeça-listada, a estrelinha do norte, o picafolhas e mais a galinhola. Nas ribeiras dos cursos de água do parque destaca o melro rieiro e o pica-peixe.

Entre os mamíferos destacam a lontra, a marta, a gardunha, o gato-bravo e a gineta. Abundam também os corços, os javalis, os cervos, as doninhas e os texugos. Também existem nas zonas mais elevadas e apartadas dos núcleos de povoação humanos populações de lobo.

Invertebrados

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Libelinha.

Entre os invertebrados destacam-se algumas espécies como o caracol de Quimper (Elona quimperiana), terrestre e endémico dos bosques atlânticos, a caramecha de rio (Belgrandiella rolanie) a lesma (Geomalacus maculosus). No Verão, durante o dia, é frequente observar a borboleta Apatura iris e à noite a endromis dos salgueiros (Endromis versicolora). Outros coleópteros destacáveis são o escaravelho Carabus galicianus associado aos cursos de água rápidos e limpos, e que é também uma espécie endémica do noroeste peninsular, e o escaravelho dourado (Chrysocarabus lateralis), distribuído por todo o território das fragas, e a vacaloura ou escornabois (Lucanus cervus), cada vez mais escassa nas fragas galegas.

Presença humana

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No parque encontram-se numerosas pegadas da actividade humana, como os fojos para fazer carvão vegetal e grandes troncos cortados a rentes do chão. Também há restos de interesse histórico e de arquitectura tradicional, como cruzeiros, pontes ou ermidas. Mais destacam os mosteiros medievais de Monfero e Caaveiro.

Vista parcial do mosteiro de Caaveiro, situado nas Fragas do Eume.

O mosteiro de Caaveiro estabeleceu-se em 934 nas Fragas do Eume para acolher os numerosos anacoretas que viviam dispersos na zona. Pronto importantes doações de São Rosendo e outros nobres engrandecem seu património, recebendo este a maior parte das terras cultiváveis existentes a uma das beiras do rio Eume; também lhe concedem a jurisdição sobre vilas e freguesias, eximindo-o da autoridade do arcebispado de Santiago de Compostela. O conjunto foi declarado em 1975 monumento histórico-artístico pela sua importância arquitectónica.

Na actualidade é propriedade da Deputação provincial da Corunha, que iniciou em 2003 a restauração para a posta em valor do conjunto.

As origens do mosteiro de Monfero remontam ao século X, quando se fundou um cenóbio ao pé duma ermida dedicada a São Marcos. Na actualidade, excepto a igreja, o resto de dependências monacais encontram-se em estado ruinoso, porém estão a levar-se a cabo medidas para a sua restauração parcial.

A importância social destes mosteiros basea-se no facto de terem servido durante muitos anos de eixo vertebrador da vida económica, social e religiosa da comarca.

Desastre ambiental

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Em 31 de março de 2012 um incêndio destruiu o coração do parque. No início foi estimada uma superfície queimada dos 1.000 hectares. Os trabalhos de extinção do fogo continuavam no 2 de abril.[4]

Galeria de imagens

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Referências

  1. Decreto 211/1996, de 2 de Maio, pelo que se aprova o Plano de ordenação dos recursos naturais do espaço natural das Fragas do Eume (DOG nº 110, de 5.06.1996) e Decreto 218/1997, a 30 de Julho, pelo que se declara o parque natural das Fragas do Eume (DOG nº 153, de 11.08.1997).
  2. A superfície total protegida é exactamente de 9125,65 ha, de acordo com o Decreto da Xunta de Galicia pelo que se aprova o PORN do Parque, das quais 3253 ha correspondem à zona de fragas propriamente dita e o resto a zonas de reserva, de mato e pasto, de aproveitamento agropecuário e a rede fluvial.
  3. A presença desta última espécie confere especial valor ao Parque e obriga a especiais medidas de protecção, ao estar na lista de espécies vermelhas em perigo crítico de extinção e protegida pela Directiva Habitat. Nesta web [1] Arquivado em 29 de setembro de 2007, no Wayback Machine. podem-se ver fotografias deste feto e o mapa de distribuição estatal
  4. Permanece activo el incendio de las Fragas do Eume tras arrasar 750 hectáreas (em castelhano)
  • Guía das aves de Galicia, Baía Edicións (2004)

Ligações externas

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