MissingNo.
MissingNo. | |
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Um MissingNo. selvagem aparecendo para o jogador em Pokémon Red. | |
Informações gerais | |
Nome no Japão | Ketsuban (けつばん) |
Série | Série Pokémon |
Primeiro jogo | Pokémon Red e Blue |
MissingNo. (けつばん Ketsuban?), ou MissingNO,[1] é uma espécie de Pokémon encontrada nos jogos Pokémon Red e Blue. O Pokémon MissingNo. ("Missing Number", ou "Número Desconhecido") é utilizado pela Game Freak como tratador de exceção, e aparece quando o jogo tenta acessar informações sobre uma espécie de Pokémon que não existe. Devido à programação de três eventos no jogo, jogadores conseguiam encontrá-lo por meio de um glitch. A espécie foi documentada pela primeira vez pela Nintendo no exemplar de maio de 1999 da Nintendo Power.
Encontrar o MissingNo. causava falhas gráficas e na replicação em massa do sexto item no menu de itens do jogador; este último efeito resultou na cobertura do glitch por guias de estratégia e revistas especializadas em jogos. A IGN comentou sobre a aparição do MissingNo. em Pokémon Red e Blue como um dos mais famosos glitches de videogame. Os fãs da série tentaram incluir o MissingNo. no cânone do universo Pokémon, o que gerou debates sobre o assunto.
História
[editar | editar código-fonte]Desenvolvida pela Game Freak e publicada pela Nintendo, a série Pokémon teve início no Japão em 1996. O jogador assume o papel de um treinador pokémon, cujo objetivo é capturar e treinar criaturas conhecidas como Pokémon. Os jogadores usam das habilidades especiais dessas criaturas para batalhar com outros Pokémon;[2][3] certas habilidades abrem novos meios de navegar pelo mundo, tais como viagem instantânea entre duas áreas.[4]
A Nintendo documentou os eventos que causam a aparição do MissingNo. pela primeira vez no exemplar de maio de 1999 da Nintendo Power, alertando que "qualquer contato com ele [...] pode facilmente apagar o seu jogo salvo ou corromper seus gráficos". O glitch é resultado de uma sucessão de eventos: primeiro, jogadores observam um tutorial no jogo que ensina como capturar Pokémon. O jogador então usa um Pokémon com a habilidade "Fly" para chegar à Cinnabar Island, e por fim utiliza um Pokémon com a habilidade "Surf" para percorrer na margem leste da ilha até que o MissingNo. apareça.[5][6]
Características
[editar | editar código-fonte]Um encontro com um Pokémon MissingNo. é resultado de três eventos computacionais. O primeiro vem do sistema de encontros aleatórios do jogo; cada área associa valores aos Pokémon em um buffer de dados, acessado pelo jogo para que o jogador encontre Pokémon selvagens. Porém, nenhum valor é associado a este buffer para o lado direito das Ilhas de Cinnabar e Seafoam — ao invés disso, informações sobre a área visitada anteriormente são utilizadas. O segundo fator é a demonstração do velho no tutorial, que armazena o nome do jogador no buffer de dados temporariamente. Isto faz com que o jogo acesse os valores hexadecimais do nome do jogador para os encontros com Pokémon nas Ilhas de Cinnabar e Seafoam. O terceiro fator é o sistema de tratamento de exceções do jogo: se o jogo seleciona um valor do buffer de dados que não corresponde a um Pokémon existente, uma sub-rotina é desencadeada, o que faz com que um Pokémon chamado MissingNo. apareça. MissingNo. é a redução de "Missing Number" ("Número Desconhecido").[6][7]
Assim como com qualquer outro Pokémon, o jogador pode enfrentá-lo, capturá-lo, ou até mesmo fugir dele. Depois de se encontrar com MissingNo., a quantidade do sexto item no menu de itens do jogador é elevada a 128, e a galeria do Hall da Fama Pokémon é corrompida permanentemente. Glitches gráficos temporários também podem ocorrer, que podem ser removidos visualizando a página de estatísticas de outro Pokémon ou reinicializando o console. Um MissingNo. capturado é um Pokémon completamente funcional, e aparece no índice Pokémon do jogo no número 000. Todos os MissingNo. possuem habilidades, tipo, estatísticas e sons consistentes. O Pokémon aparece tipicamente na forma de um "d" embaralhado, mas certos valores de encontro aleatório podem fazê-lo aparecer como um dos três sprites não usados por outros Pokémon.[8][9]
Reação e recepção
[editar | editar código-fonte]Embora ele tenha aparecido apenas em dois jogos da série, MissingNo. causou grande impacto. Alegando um "erro de programação", a Nintendo alertou jogadores a não tentar encontrá-lo, dizendo que pudesse ser necessário reiniciar o jogo do começo novamente para remover os glitches gráficos.[1][5][7] Apesar do alerta da Nintendo, informações sobre como encontrar o MissingNo. foram disseminadas em várias revistas e guias de jogos devido o seu percebido efeito positivo.[7][10][11] Alguns jogadores tentaram até mesmo vender "dicas" sobre como capturar MissingNo. por até US$200.[12] Em 2009, a IGN o intitulou na sua lista de grandes easter eggs em videogames, citando sua utilidade em replicar os itens mais raros do jogo.[13] A IGN afirmou em um artigo relacionado que o fenômeno envolvendo MissingNo. era um exemplo de como os fãs da franquia eram capazes até de "usar um glitch de potencial destrutivo para evoluir seus Pokémon rapidamente",[6] posteriormente chamando o glitch de "inesquecível", e que ajudou a empurrar os jogos originais ao "super estrelato dos games".[14]
A reação dos jogadores ao MissingNo. foi sujeita a estudos sociológicos. O sociólogo William Sims Bainbridge disse que a Game Freak foi a responsável por criar "um dos glitches mais populares da história dos jogos", e citou a criatividade dos jogadores em utilizá-lo.[15] No livro Pikachu's Global Adventure: The Rise and Fall of Pokémon, o professor Julian Sefton-Gren, ao estudar a reação de seu filho quanto ao uso do MissingNo. como uma "trapaça", percebeu que o senso da criança sobre o jogo foi alterado drasticamente, e concluiu que a presença de tais elementos quebram a ilusão do jogo como um mundo pessoal, e faz os jogadores lembrarem que, "no fundo, [o jogo é] um programa de computador".[16] O livro Playing with Videogames contém um estudo aprofundado sobre o MissingNo., que detalha a curiosidade dos jogadores ao encontrá-lo. O livro descreve a tendência dos jogadores a tomarem nota sobre sua aparência, e a classificarem e criticarem as descobertas dos outros. O livro afirma que, em suas tentativas de canonizar o MissingNo. por meio de fanzines e fanfiction, a comunidade Pokémon celebrou as imperfeições do jogo tentando imprimi-las no cânone da série. O autor descreve essas circunstâncias como únicas ao MissingNo., descrevendo sua popularidade como um caso incomum.[8]
Referências
- ↑ a b Nintendo. «Atendimento ao Cliente — Resolução de Problemas Específicos a um GamePak». Consultado em 6 de julho de 2009. Cópia arquivada em 27 de janeiro de 2008
- ↑ Game Freak (30 de setembro de 1998). Pokémon Red e Blue, manual de instruções. [S.l.]: Nintendo. pp. 6–7
- ↑ Game Freak (30 de setembro de 1998). Pokémon Red e Blue, manual de instruções. [S.l.]: Nintendo. 11 páginas
- ↑ Game Freak (30 de setembro de 1998). Pokémon Red e Blue. Nintendo.
HM02 is FLY. It will take you back to any town. ("HM02" é "Fly". Esta habilidade o leva de volta para qualquer cidade.)
- ↑ a b Equipe (1999). «Pokéchat». Nintendo Power. 120: 101
- ↑ a b c d DeVries, Jack (24 de novembro de 2008). «Pokémon Report: OMG Hacks». IGN. IGN Entertainment. Consultado em 7 de junho de 2009. Cópia arquivada em 6 de fevereiro de 2010
- ↑ a b c d Loe, Casey (1999). Pokémon Perfect Guide Includes Red-Yellow-Blue. [S.l.]: Versus Books. p. 125. ISBN 1-930206-15-1
- ↑ a b NEWMAN, p. 117–118
- ↑ Equipe (1999). «Top 50 Games». Pocket Games (1): 96
- ↑ «Guides: Pokémon Blue and Red». IGN. IGN Entertainment. Consultado em 8 de junho de 2009. Cópia arquivada em 5 de dezembro de 2007
- ↑ Sweetman, Kim (28 de dezembro de 1999). «The latest Pokémon trend: if you can't beat 'em, cheat». The Daily Telegraph. p. 11
- ↑ Staff (9 de abril de 2009). «Gaming's Top 10 Easter Eggs». IGN. IGN Entertainment. p. 2. Consultado em 7 de junho de 2009. Cópia arquivada em 6 de fevereiro de 2010
- ↑ Drake, Audrey (10 de janeiro de 2011). «The Evolution of Pokémon». IGN. IGN Entertainment. Consultado em 12 de janeiro de 2011. Cópia arquivada em 12 de janeiro de 2011
- ↑ BAINBRIDGE, p. 61
- ↑ SEFTON-GREEN, p. 147 e 160
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Newman, James (2008). Playing with Videogames. [S.l.]: Taylor & Francis. 119 páginas. ISBN 0-415-38523-7
- Schlesinger, Hank (2001). Pokémon Future: The Unauthorized Guide. [S.l.]: St. Martin's Paperbacks. p. 184–188. ISBN 0-312-97758-1
- Bainbridge, William Sims; Wilma Alice Bainbridge (2007). «Creative Uses of Software Errors: Glitches and Cheats». SAGE Publications. Social Science Computer Review. 25. doi:10.1177/0894439306289510
- Sefton-Green, Julian (2004). «Initiation Rites: A Small Boy in a Poké-World». In: Tobin, Joseph Jay. Pikachu's Global Adventure: The Rise and Fall of Pokémon. [S.l.]: Duke University Press. 160 páginas. ISBN 0-8223-3287-6