Chamada de procedimento remoto
Este artigo ou secção contém uma lista de referências no fim do texto, mas as suas fontes não são claras porque não são citadas no corpo do artigo, o que compromete a confiabilidade das informações. (Janeiro de 2011) |
Chamada remota de procedimento (RPC, acrônimo de Remote Procedure Call) é uma tecnologia de comunicação entre processos que permite a um programa de computador chamar um procedimento em outro espaço de endereçamento (geralmente em outro computador, conectado por uma rede). O programador não se preocupa com detalhes de implementação dessa interação remota: do ponto de vista do código, a chamada se assemelha a chamadas de procedimentos locais.
RPC é uma tecnologia popular para a implementação do modelo cliente-servidor de computação distribuída. Uma chamada de procedimento remoto é iniciada pelo cliente enviando uma mensagem para um servidor remoto para executar um procedimento específico. Uma resposta é retornada ao cliente. Uma diferença importante entre chamadas de procedimento remotas e chamadas de procedimento locais é que, no primeiro caso, a chamada pode falhar por problemas da rede. Nesse caso, não há nem mesmo garantia de que o procedimento foi invocado.
História
[editar | editar código-fonte]A ideia de RPC data de 1976, quando foi descrito no RFC 707. Um dos primeiros usos comerciais da tecnologia foi feita pela Xerox no "Courier", de 1981. A primeira implementação popular para Unix foi o Sun RPC (atualmente chamado ONC RPC), usado como base do Network File System e que ainda é usada em diversas plataformas.
Outra implementação pioneira em Unix foi o Network Computing System (NCS) da Apollo Computer, que posteriormente foi usada como fundação do DCE/RPC no Distributed Computing Environment (DCE). Uma década depois a Microsoft adotou o DCE/RPC como base para a sua própria implementação de RPC, MSRPC, a DCOM foi implementada com base nesse sistema. Ainda no mesmo período da década de 1990, o ILU da Xerox PARC e o CORBA ofereciam outro paradigma de RPC baseado em objetos distribuídos, com mecanismos de herança.
De forma análoga, atualmente utiliza-se XML e JSON como linguagem de descrição de interface e HTTP como protocolo de rede para formar serviços web, cujas implementações incluem SOAP, REST e XML-RPC.
O Modelo
[editar | editar código-fonte]O modelo de Chamada Remota de Procedimento é similar ao modelo de chamadas locais de procedimentos, no qual a rotina que invoca o procedimento coloca os argumentos em uma área de memória bem conhecida e transfere o controle para o procedimento em execução, que lê os argumentos e os processa. Em algum momento, a rotina retoma o controle, extraindo o resultado da execução de uma área bem conhecida da memória. Após isso, a rotina prossegue com a execução normal.
No modelo RPC, o processo de invocação ocorre de maneira similar. Uma Thread é responsável pelo controle de dois processos: invocador e servidor. O processo invocador primeiro manda uma mensagem para o processo servidor e aguarda (autobloqueia) uma mensagem de resposta. A mensagem de invocação contém os parâmetros do procedimento e a mensagem de resposta contém o resultado da execução do procedimento. Uma vez que a mensagem de resposta é recebida, os resultados da execução do procedimento são coletados e a execução do invocador prossegue.
Do lado do servidor, um processo permanece em espera até a chegada de uma mensagem de invocação. Quando uma mensagem de invocação é recebida, o servidor extrai os parâmetros, processa-os e produz os resultados, que são enviados na mensagem de resposta. O servidor, então, volta a esperar por uma nova mensagem de invocação.
Nesse modelo, apenas um dos dois processos permanece ativo, em um dado instante de tempo. No entanto, esse modelo serve apenas de ilustração. O protocolo ONC RPC não faz restrições à implementações que permitam concorrência entre esses processos. Por exemplo, uma implementação poderia optar por chamadas assíncronas, que permitiriam ao cliente continuar com o trabalho útil, enquanto estivesse aguardando a mensagem de resposta.
Uma chamada remota de procedimento difere das chamadas locais em alguns pontos:
- Tratamento de erros: falhas do servidor ou da rede devem ser tratadas.
- Variáveis globais e efeitos colaterais: Uma vez que o servidor não possui acesso ao espaço de endereços do cliente, argumentos protegidos não podem ser passados como variáveis globais ou retornados.
- Desempenho: chamadas remotas geralmente operam a velocidades inferiores em uma ou mais ordens de grandeza em relação às chamadas locais.
- Autenticação: uma vez que chamadas remotas de procedimento podem ser transportadas em redes sem segurança, autenticação pode ser necessário.
Dessa forma, mesmo havendo diversas ferramentas que geram automaticamente o cliente e o servidor, os protocolos precisam ser desenvolvidos cuidadosamente.
Semântica de Transporte
[editar | editar código-fonte]O protocolo RPC pode ser implementado sobre diferentes tipos de protocolos de transporte, uma vez que é indiferente a maneira de como uma mensagem é transmitida entre os processos. É importante salientar que o protocolo RPC não implementa nenhuma forma de confiabilidade e que a aplicação precisa tomar cuidados quanto ao tipo de protocolo sobre o qual RPC opera. Caso se trate de um protocolo confiável, como TCP, as preocupações com confiabilidade já são resolvidas. Por outro lado, caso a camada de transporte seja não-confiável, como UDP, mecanismos de timeout, retransmissão e detecção de duplicatas devem ser implementados, uma vez que esses serviços não são providos por RPC.
Devido à independência da camada de transporte, o protocolo RPC não modifica a semântica das chamadas remotas, nem seus requisitos de execução. A semântica pode ser inferida a partir da camada de transporte em uso. Por exemplo, considere o caso em que RPC opera sobre uma camada de transporte não-confiável, como UDP. Se uma aplicação retransmite mensagens de invocação RPC, após timeouts, e não recebe respostas, não pode inferir o número de vezes em que o procedimento foi executado. Se uma mensagem é recebida, ela pode inferir que o procedimento foi executado, pelo menos, uma vez. O servidor pode efetuar o controle do número de execuções, simplesmente gravando o número do último procedimento executado com êxito, evitando assim reexecuções de uma mesma chamada.
Por outro lado, quando RPC opera sobre uma camada de transporte confiável, como TCP, a aplicação pode inferir, a partir de uma mensagem de resposta, que o procedimento foi executado exatamente uma vez. No entanto, se nenhuma mensagem de reposta é recebida, a aplicação não pode assumir que o procedimento não foi executado. Perceba que, mesmo usando um protocolo orientado a conexões, aplicações ainda requerem timeouts para identificar falhas do servidor.
Há, ainda, muitas outras possibilidades de transporte além de datagramas e protocolos orientados a conexão. Por exemplo, protocolos de consulta-resposta como VMTP pode ser usado por TCP.
Implementando RPC
[editar | editar código-fonte]Para permitir que os servidores sejam acessados por diferentes clientes, diversos sistemas padronizados de RPC foram criados. A maioria deles usa uma linguagem de descrição de interface (IDL) para que diferentes plataformas possam chamar procedimentos. Fazendo uso de uma ferramenta como o RPCGEN, pode-se gerar interfaces entre cliente e servidor a partir de um arquivo IDL, os chamados stubs. Como os stubs são embarcados nas aplicações cliente e servidor, a RPC não é uma camada de middleware.[1]
Na codificação, o procedimento remoto do cliente chama o stub cliente como qualquer outro procedimento local, e a implementação interna do stub cliente é responsável por iniciar o processo de transmissão para stub servidor, empacotando a chamada numa mensagem. Ao chegar, o stub servidor desempacota a mensagem e invoca localmente o procedimento, aguardando o retorno. Quando a chamada local retorna, o stub servidor é responsável por iniciar o processo de transmissão para o stub cliente, empacotando a resposta numa mensagem. Chegando, a resposta é desempacotada pelo stub cliente, sendo retornada localmente para o procedimento que realizou a chamada remota.
Ao invocar o procedimento remoto, deve-se atentar que cliente e servidor podem ser plataformas diferentes, que representam dados de forma diferente. Nesse caso é preciso um protocolo comum de representação dos dados, como o XDR, ou a garantia de que ambas as partes saibam converter os dados para tipos de dado suportados. Por ser uma chamada remota, noutro espaço de endereçamento, deve-se atentar também o desafio de passar um ponteiro. Nesse caso, a implementação interna do RPC deve passar o conteúdo do ponteiro por cópia e restaurar a área de memória no retorno do procedimento.
Limitações
[editar | editar código-fonte]Diferentes implementações de chamada de procedimento remoto costumam ser incompatíveis entre si, ainda que existam exceções. Por isso, o uso de uma determinada implementação, provavelmente, resultará na dependência com o fornecedor da implementação. Essa incompatibilidade entre implementações se mostra também na disponibilidade de funcionalidades, no suporte a diferentes protocolos de rede e diferentes sistemas de arquivo.
A maioria das implementações não suporta P2P e ou interação assíncrona entre cliente e servidor (por definição, a chamada remota corresponde a uma chamada local do ponto de vista da aplicação, bloqueante da mesma forma). A comunicação síncrona implica a disponibilidade constante tanto do cliente quanto do servidor.
Implementações
[editar | editar código-fonte]- CORBA — padrão RPC independente de plataforma
- Sun RPC — RPC para as plataformas Unix e Linux
- DCOM — RPC para Windows
- RMI — RPC para Java
- SOAP — padrão RPC para web service
- JRES - Java Remote Execution Service é um protocolo RPC que usa um mecanismo de codificação estilo SSL para codificar suas chamadas e HTTP puro como mecanismo de transporte.
Ver também
[editar | editar código-fonte]Notas
- ↑ Vondrak, 1997
Referências
[editar | editar código-fonte]- RFC 1057 - ONC RPC versão 1
- RFC 1831 - ONC RPC versão 2
- Procedure Calls Tutorial (em inglês)
- Patrícia Kayser Vargas. «Chamada Remota de Procedimento (RPC)» (PDF). Notas de aula de Sistemas Operacionais Distribuídos e de Redes. UFRGS. Consultado em 14 de julho de 2008