Self na psicologia junguiana
O self ou si mesmo, na psicologia junguiana, é um dos arquétipos junguianos, significando a unificação do consciente e do inconsciente em uma pessoa e representando a psique como um todo.[1]
O self, de acordo com Carl Jung, é percebido como o produto da individuação, que na sua opinião é o processo de integração da personalidade. Para Jung, o Self é simbolizado pelo círculo (especialmente quando dividido em quatro quadrantes, chamado quaternidade),[2] o quadrado ou a mandala.[3]
Centros gêmeos
[editar | editar código-fonte]A ideia de que existem dois centros da personalidade distingue a psicologia junguiana. O ego é visto como o centro da consciência, enquanto o Self é definido como o centro da personalidade total, que inclui a consciência, o inconsciente e o ego; o Self é o todo e o centro. Enquanto o ego é um centro autônomo do círculo contido no todo, o Self pode ser entendido como o círculo maior.[3][4]
Emergência do Self
[editar | editar código-fonte]Jung considerou que, desde o nascimento, todo indivíduo tem um senso original de totalidade – do Si mesmo – , mas que, com o desenvolvimento, uma consciência do ego separada se cristaliza a partir do sentimento original de unidade.[5] Esse processo de diferenciação do ego fornece a tarefa da primeira metade do curso da vida, embora os junguianos também considerassem a saúde psíquica dependente de um retorno periódico ao sentido do Self, algo facilitado pelo uso de mitos, cerimônias de iniciação e ritos de passagem.[5]
Retorno ao Self: individuação
[editar | editar código-fonte]Depois que a diferenciação do ego foi alcançada com sucesso e o indivíduo está firmemente ancorado no mundo externo, Jung considerou que uma nova tarefa então surge para a segunda metade da vida – um retorno e uma redescoberta consciente do Eu: individuação. Marie-Louise von Franz afirma que "os processos reais de individuação – o consciente chegar a um termo com o próprio centro interior (núcleo psíquico) ou o Self – geralmente começam com um ferimento na personalidade".[6] O ego atinge um impasse de um tipo ou de outro; e precisa pedir ajuda para o que ela chamou de "uma espécie de tendência oculta de regulação ou direção ... [um] centro organizador" na personalidade: "Jung chamou esse centro de 'Self' e o descreveu como a totalidade de toda a psique, para distingui-lo do 'ego', que constitui apenas uma pequena parte da psique".[7]
Sob a orientação do Self, surge uma sucessão de imagens arquetípicas,[8] gradualmente aproximando cada vez mais seus aspectos fragmentários do Self da sua totalidade. O primeiro a aparecer, e o mais próximo do ego, seria a sombra ou o inconsciente pessoal – algo que é ao mesmo tempo o primeiro representante da personalidade total[9] e que às vezes pode, de fato, estar em conflito com o Si mesmo.[10] A seguir, aparecerão a Anima e o Animus, a imagem da alma, que novamente, por uma espécie de atalho psicológico, pode ser tomada como idêntica a todo o Self.[11] Idealmente, no entanto, o animus ou anima passa a desempenhar um papel mediador entre o ego e o Self.[12] O terceiro arquétipo principal a emergir é a figura de Mana do velho sábio/velha sábia[13] – um representante do inconsciente coletivo ainda mais próximo do Self.[14]
Depois disso, vem o arquétipo do próprio Self – o último ponto no caminho para a autorrealização da individuação.[15] Nas palavras de Jung, "o Self... abraça a consciência do ego, a sombra, a anima e o inconsciente coletivo em extensão indeterminável. Como uma totalidade, o self é uma coincidentia oppositorum; portanto, é brilhante e escuro e, no entanto, nenhum dos dois".[16] Alternativamente, ele afirmou que "o Self é o homem total e atemporal ... que representa a integração mútua entre consciente e inconsciente".[17] Jung reconheceu muitas imagens de sonho como representando o eu, incluindo uma pedra, a árvore do mundo, um elefante e o Cristo.[18]
Perigos do Self
[editar | editar código-fonte]Von Franz considerou que "o lado sombrio do Self é a coisa mais perigosa de todas, precisamente porque o Self é o maior poder da psique. Ele pode fazer com que as pessoas 'girem' fantasias megalomaníacas ou outras fantasias ilusórias que as alcançam", de modo que a vítima "pensa com entusiasmo crescente que compreendeu os grandes enigmas cósmicos; portanto, perde todo o contato com a realidade humana."[19]
Na vida cotidiana, o Si mesmo pode ser projetado em figuras poderosas como o estado, Deus, o universo ou o destino.[20][21] Quando essas projeções são retiradas, pode haver uma inflação destrutiva da personalidade – um contrapeso potencial a isso sendo, no entanto, os aspectos sociais ou coletivos do Self.[22]
Crítica ao conceito junguiano de Self
[editar | editar código-fonte]Young-Eisendrath e Hall escrevem que "no trabalho de Jung, o self pode se referir à noção de individualidade subjetiva inerente, à ideia de um centro abstrato ou princípio de ordenação central e à descrição de um processo que se desenvolve ao longo do tempo".[23]
Fritz Perls objetou que “muitos psicólogos gostam de escrever o self com um S maiúsculo, como se o self fosse algo precioso, algo extraordinariamente valioso. Eles vão à descoberta do self como uma escavação de tesouros. O self não significa nada além de algo como é definido pela alteridade”.[24]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ Josepf L. Henderson, "Ancient Myths and Modern Man" in C. G. Jung ed., Man and his Symbols (London 1978) p. 120
- ↑ Research in the social scientific study of religion. [S.l.: s.n.] ISBN 9789004348936. OCLC 994146016
- ↑ a b Lawson, Thomas T. (2008). Carl Jung, Darwin of the mind. [S.l.: s.n.] ISBN 9781849406420. OCLC 727944810
- ↑ Zweig, Connie. Meeting the Shadow. [S.l.: s.n.] ISBN 0-87477-618-X p. 24.
- ↑ a b Henderson, "Myths" p. 120
- ↑ M-L von Franz, "The Process of Individuation" in Jung ed., Symbols p. 169
- ↑ von Franz, "Process" p. 161-2
- ↑ Jolandi Jacobi, The Psychology of C. G. Jung (London 1968) p. 40
- ↑ Barbara Hannah, Striving towards Wholeness (Boston 1988) p. 25
- ↑ von Franz "Process" p. 182-3
- ↑ C. G. Jung, Alchemical Studies (London 1978) p. 268
- ↑ von Franz "Process" p. 193 and p. 195
- ↑ J. Jacobi, The Psychology of C. G. Jung (London 1946) p. 115
- ↑ C. G. Jung, The Archetypes and the Collective Unconscious (London 1996) p. 183 and p. 187
- ↑ Jacobi (1946) p. 118
- ↑ C. G. Jung, Mysterium Coniunctionis (London 1963) p. 108n
- ↑ C. G .Jung, "Psychology of the Transference", Collected Works Vol. 16 (London 1954) p. 311
- ↑ On this last, see "Christ, a Symbol of the Self" in Collected Works Vol. 9ii, p. 36ff. He explicitly says, "Christ exemplifies the archetype of the self." [italics his]
- ↑ von Franz, Process, p.234.
- ↑ Anthony Stevens, On Jung (London 1990) p. 41
- ↑ «Becoming Whole: Jung's Equation for Realizing God». Psych Central (em inglês)
- ↑ von Franz, Process, p. 238.
- ↑ Polly Young-Eisendrath/James Albert Hall, Jung's Self-Psychology (1991) p. 5
- ↑ Fritz Perls, Gestalt Therapy Verbatim (Bantam) p. 8