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Sururu

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Como ler uma infocaixa de taxonomiaSururu[1][2]
Mytella strigata
Valvas separadas de duas conchas de M. strigata, sem o animal; espécimes em vista superior (acima) e inferior (abaixo); coletados nas Dependências Federais da Venezuela, norte da América do Sul.
Valvas separadas de duas conchas de M. strigata, sem o animal; espécimes em vista superior (acima) e inferior (abaixo); coletados nas Dependências Federais da Venezuela, norte da América do Sul.
Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Mollusca
Classe: Bivalvia
Subclasse: Autobranchia
Ordem: Mytilida
Superfamília: Mytiloidea
Família: Mytilidae[3]
Género: Mytella
Soot-Ryen, 1955[3]
Espécie: M. strigata
Nome binomial
Mytella strigata
(Hanley, 1843)[3]
Sinónimos
Modiola strigata Hanley, 1843
Musculus strigatus (Hanley, 1843)
Mytilus strigatus (Hanley, 1843)
Mytilus charruanus d'Orbigny, 1846
Mytella charruana (d'Orbigny, 1846)
Mytella falcata (d'Orbigny, 1846)
Mytilus sinuatus Reeve, 1857
Volsella reevei Angas, 1867
Modiolus arciformis Dall, 1909
Mytilus mundahuensis Duarte, 1926
Musculus lebourae White, 1949
(WoRMS)[3]

O sururu (da língua tupi, significando "escorrido", do verbo sururu: "vasar", "derramar")[4] é uma espécie de mexilhão[5][6]; um molusco bivalve marinho, costeiro e estuarino, da família Mytilidae, cientificamente denominado Mytella strigata (no passado, também denominado Mytella charruana ou Mytella falcata, por Alcide Dessalines d'Orbigny)[1][3][7]; popularmente nomeado, em inglês, falcate swamp mussel[8] ou charru mussel.[9] No litoral brasileiro, a espécie também recebe as denominações populares siriri, uma variante linguística, alastrim ou sururu-de-alagoas, segundo o Dicionário Aurélio[7] (sendo abundante nas lagoas de Manguaba e Mundaú, Alagoas)[5]; com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa acrescentando os nomes bacucu, bico-de-ouro, maria-preta, marisco-do-mangue, mexilhão-do-mangue, pretinho e sururu-do-mangue; não especificando que tais termos sejam necessariamente aplicados sobre a espécie Mytella strigata; ainda acrescentando que os termos sururu-da-vasa e sururu-de-alestrim especificam os habitats onde se encontram (respectivamente o fundo de lagoas, em meio ao lodo, ou se desenvolvendo em paus da linha da maré, junto às cracas), e que os termos sururu-de-capote e sururu-despinicado especificam, respectivamente, os indivíduos vendidos com ou sem a sua concha.[10] No Paraná, Região Sul do Brasil, também é conhecido como marisco-de-dedo.[2] Sem citar qual a espécie, Rodolpho von Ihering aponta que Wilson da Costa comenta sobre a existência, no Maranhão, de um sururu-de-coroa, que vive em "mantas", ou camadas extensas de "coroas de areia", não atingindo maiores dimensões; além de citar um sururu-de-punho, "que vive no tijuco do mangue, onde deixa pequenos orifícios à flor do mangue, para respirar".[6] Tais hábitos fossoriais, deste sururu-de-punho, não são típicos do sururu verdadeiro; que vive agregado, submerso na água, formando "cachos" e bancos na região entremarés[2], e porque os mexilhões são caracterizados pela presença de tufos de filamentos escuros que prendem esses animais às rochas (bisso).[11] O fato é que outra espécie, Mytella guyanensis (Lamarck, 1819), quando exposta à maré baixa pode enterrar-se no substrato até uma profundidade de 20 centímetros (KLAPPENBACH, 1965), podendo ser a que Wilson da Costa descrevera.[12]

Em seu livro Moluscos Brasileiros de Interesse Médico e Econômico, Alexandre Valente Boffi nomeia todos os mexilhões da costa brasileira com o nome sururu[12], enquanto o malacologista Eliezer de Carvalho Rios cita este nome apenas para Mytella strigata.[1]

Classificação científica

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A espécie Mytella strigata foi classificada pelo malacologista britânico Sylvanus Charles Thorp Hanley; denominada Modiola strigata, em 1843, na obra An illustrated and descriptive catalogue of Recent shells, by Sylvanus Hanley.[3][13]

Comércio, uso e alimentação, na costa brasileira

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De acordo com um texto publicado em 2016 na Revista Semioses (v 10, n.03), o sururu é a "espécie mais explorada na costa brasileira, principalmente por população ribeirinha" (citando PEREIRA, 2014), sendo utilizado "não só como forma de subisistência, mas também para comercialização do produto".[14] De acordo com Eurico Santos, citando um observador de seu comércio, a procura do sururu para alimentação chega a ser impressionante, tal o hábito enraizado e já tradicional que tem o povo, seja rico ou pobre, de apresentá-lo em sua mesa, quase diariamente. Por isso mesmo, o seu valor na economia popular é grande e considerável o seu comércio. Ainda comenta que a Great Western of Brazil Railway possuía trem cuja denominação era trem de sururu, contendo "4 a 5 carros carregados de sacos com sururu envolvidos em lama, para chegar vivo aos mercados interiores, indo até Palmeira dos Índios"; e que "em Maceió funcionou por muito tempo uma fábrica de conserva de sururu, que foi obrigada a fechar desde que a produção começou a tornar-se irregular", isto em virtude de sua sobrepesca.[5] Tal fábrica se chamava A Mercantil Ltda, fundada no final da década de 1920 e início da década de 1930, que inclusive exportava o seu produto como finíssimo, de agradável gosto e excelentes qualidades nutritivas.[15] Trata-se de uma iguaria muito conhecida nos estados da Região Nordeste do Brasil, onde é apreciada em pratos típicos, como o caldo de sururu, preparado com alguns vegetais[16], que é feito com azeite de dendê[17], ou azeite de oliva[18], e leite de coco[17]; ou até mesmo em preparos com molho de tomate ou com farofa, como se fosse uma casquinha de siri[19], ou utilizado em saladas a vinagrete.[16] Em Alagoas é saboreado cru, enriquecido com limão e sal de cozinha; muitos acreditando que este molusco tenha o poder de curar pessoas ou revigorá-las sexualmente.[18] Já no Espírito Santo, na Região Sudeste do Brasil, ele é utilizado em moquecas.[17] Está citado que o valor protéico desta espécie equivale ao da carne de frango ou de boi.[20] Também faz parte da composição de diversos sambaquis ao longo da costa brasileira e seu uso se extende na utilização como matéria-prima para o artesanato.[21] Em 11 de dezembro de 2014, o molusco foi decretado Patrimônio Imaterial de Alagoas por seu Conselho Estadual de Cultura; principalmente após os esforços do antropólogo Edson Bezerra, autor do livro Manifesto Sururu: Por uma Antropofagia das Coisas Alagoanas[22][23]; havendo época em que era comum se referir a Alagoas como a terra do sururu e ao alagoano como papa-sururu; além de se dar o nome de sururuzeiro a seu coletor.[24]

Descrição da concha

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Mytella strigata possui uma concha alongada e de valvas similares, com até 5 centímetros de comprimento; dotada de um fino perióstraco enegrecido e com linhas de crescimento aparentes; com uma das laterais levemente retraída, de coloração castanho-amarelada em sua região umbonal-ventral e esverdeada na região dorsal. Seu interior é arroxeado.[1][2][20][21][25]

Distribuição geográfica e bioinvasões

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A distribuição geográfica da espécie se estende da Venezuela à Argentina, no oceano Atlântico, e do México ao Equador, no oceano Pacífico[14]; sendo uma espécie invasora na Região Sudeste dos Estados Unidos, inicialmente encontrada em Jacksonville[26], condado de Duval[27], Flórida, em 1986, cobrindo um tubo de entrada de água do mar de uma usina; não sendo encontrada nos anos subsequentes até 2004, quando fora encontrada na praia de New Smyrna Beach, em um recife de ostras do condado de Volusia.[26] Desde então a espécie fora avistada também nos condados de Flagler e St. Johns, ao norte; além dos condados Camden, Liberty e Bryan, na Geórgia.[27] No Extremo Oriente asiático e Indo-Pacífico esta espécie fora encontrada em Singapura, Índia (em Querala), Filipinas (em Lução) e Taiwan, a partir do início do século XXI.[28][29]

Conservação

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Considerada uma espécie comum no século XX[8], Mytella strigata está listada como espécie pouco preocupante (LC) no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, publicado em 2018 pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, com a conclusão desta avaliação feita em 2012.[30]

Referências

  1. a b c d RIOS, Eliézer (1994). Seashells of Brazil (em inglês) 2ª ed. Rio Grande, RS. Brazil: FURG. p. 236. 492 páginas. ISBN 85-85042-36-2 
  2. a b c d ABSHER, Theresinha Monteiro; FERREIRA JUNIOR, Augusto Luiz; CHRISTO, Susete Wambier (2015). Conchas de Moluscos Marinhos do Paraná (PDF). Curitiba - PR: Museu de Ciências Naturais - MCN - SCB - UFPR. p. 10. 20 páginas. ISBN 978-85-66631-18-0. Consultado em 2 de outubro de 2021 
  3. a b c d e f «Mytella strigata (Hanley, 1843)» (em inglês). World Register of Marine Species. 1 páginas. Consultado em 2 de outubro de 2021 
  4. «Sururu». Dicionário Ilustrado Tupi Guarani. 1 páginas. Consultado em 2 de outubro de 2021 
  5. a b c SANTOS, Eurico (1982). Zoologia Brasílica, vol. 7. Moluscos do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia. p. 45-47. 144 páginas 
  6. a b IHERING, Rodolpho von (1968). Dicionario dos Animais do Brasil. São Paulo: Editora Universidade de Brasília. p. 651. 790 páginas 
  7. a b FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda (1986). Novo Dicionário da Língua Portuguesa 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. p. 1634. 1838 páginas 
  8. a b ABBOTT, R. Tucker; DANCE, S. Peter (1982). Compendium of Seashells. A color Guide to More than 4.200 of the World's Marine Shells (em inglês). New York: E. P. Dutton. p. 298. 412 páginas. ISBN 0-525-93269-0 
  9. «Charru Mussel» (em inglês). National Museum of Natural History. 1 páginas. Consultado em 2 de outubro de 2021 
  10. HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de Mello (2001). Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa 1ª ed. Rio de Janeiro: Objetiva. p. 2647. 2922 páginas. ISBN 85-7302-383-X 
  11. ROSA, Carlos Nobre (1973). Os Animais de Nossas Praias 2 ed. São Paulo: Edart. p. 126-128. 192 páginas 
  12. a b BOFFI, Alexandre Valente (1979). Moluscos Brasileiros de Interesse Médico e Econômico. São Paulo: FAPESP - Hucitec. p. 46-51. 182 páginas 
  13. «List of malacologists» (em inglês). Documents.pub. p. 4. 13 páginas. Consultado em 2 de outubro de 2021 
  14. a b Palmeira, Karoline Ribeiro; Calixto, Flávia Aline; Keller, Luiz Antonio; Mesquita, Eliana de Fátima Marques (2016). «O sururu como produto de subsistência e renda da população ribeirinha, Brasil - Revisão de Literatura». Revista Semioses, v 10, n.03 (ResearchGate). 1 páginas. Consultado em 2 de outubro de 2021 
  15. Goethe, Paulo (25 de março de 2016). «Quem não tem peixe, caça com sururu (em conserva)». Diario de Pernambuco. 1 páginas. Consultado em 2 de outubro de 2021 
  16. a b «Sururu». Slow Food Brasil. 1 páginas. Consultado em 2 de outubro de 2021 
  17. a b c «Sururu». Britannica Escola. 1 páginas. Consultado em 2 de outubro de 2021 
  18. a b CARDOSO, Luiz Carlos; BORGES, Renata Farhat (1993). Almanaque Cardápio de Alimentação 1 ed. São Paulo: Columbus Cultural. p. 220-221. 344 páginas. ISBN 85-85189-12-6 
  19. Menezes, Renata (31 de janeiro de 2020). «8 receitas de sururu que vão fazer você se sentir nas praias do Nordeste». Receiteria. 1 páginas. Consultado em 2 de outubro de 2021 
  20. a b BOFFI, Alexandre Valente (Op. cit., pp.50-51.).
  21. a b SOUZA, Rosa Cristina Corrêa Luz de; LIMA, Tania Andrade; SILVA, Edson Pereira da (2011). Conchas Marinhas de Sambaquis do Brasil 1ª ed. Rio de Janeiro, Brasil: Technical Books. p. 77. 252 páginas. ISBN 978-85-61368-20-3 
  22. Guimarães, Valéria (21 de dezembro de 2014). «Sururu tornou-se Patrimônio Imaterial de Alagoas». Alagoas na Net. 1 páginas. Consultado em 2 de outubro de 2021 
  23. «Sururu é finalmente reconhecido como 'patrimônio imaterial do Estado'». Agenda A. 11 de dezembro de 2014. 1 páginas. Consultado em 2 de outubro de 2021 
  24. Ticianeli (6 de dezembro de 2018). «A história do sururu alagoano». História de Alagoas – Informações sobre a história de Alagoas. 1 páginas. Consultado em 2 de outubro de 2021 
  25. «Mytella charruana (d´Orbigny, 1842)». Conquiliologistas do Brasil: CdB. 1 páginas. Consultado em 2 de outubro de 2021 
  26. a b Gillis, Nancy K.; Walters, Linda J.; Fernandes, Flavio C.; Hoffman, Eric A. (2009). «Higher genetic diversity in introduced than in native populations of the mussel Mytella charruana: evidence of population admixture at introduction sites» (em inglês). Diversity and Distributions 15 (Wiley Online Library). p. 785. Consultado em 2 de outubro de 2021. Mytella charruana was initially found in Jacksonville, Florida in 1986 covering a seawater intake pipe at the Northside Generator Power Plant (Lee, 1987). However, despite repeated searching, the species was not found the following year or any subsequent years until 2004, when M. charruana was found at New Smyrna Beach, Florida, on an intertidal oyster reef in the Indian River Lagoon, c. 170 km south of Jacksonville (Boudreaux & Walters, 2006). 
  27. a b «Mytella charruana (d'Orbigny, 1846) Charrua Mussels In Duval Co., Florida» (em inglês). Jacksonville Shells. 1 páginas. Consultado em 2 de outubro de 2021 
  28. Huang, Yi-Cheng; Li, Ze-Kai; Chen, Wen-Ling; Chan, Chang-Chuan; Hsu, Hsiang-Yi; Lin, Yen-Ting; Huang, Ying-Sheng; Han, Yu-San (2021). «First record of the invasive biofouling mussel Mytella strigata (Hanley, 1843) (Bivalvia: Mytilidae) from clam ponds in Taiwan» (PDF) (em inglês). BioInvasions Records Volume 10, Issue 2 (REABIC). 1 páginas. Consultado em 2 de outubro de 2021. In 2019, a survey of hard clam-cultured ponds along the southwestern coast of Taiwan revealed an unknown, almost ubiquitous, brackish water mussel. The mussels were attached to the concrete walls and drainage systems of the clam ponds, hulls of boats, bottom sediment, and riverbanks of the estuary. The largest individual had a shell length of over 6 cm. The general external color of the shells was uniformly dark brown or black, but shells with a dark greenish color were also found. The mitochondrial DNA cytochrome c oxidase gene sequences obtained from specimens were consistent with Mytella strigata from Singapore, India, and the Philippines. 
  29. Gopalakrishnan, A. «Identifying and managing Mytella strigata. The invasive mussel species reported from Kerala» (PDF) (em inglês). Indian Council of Agricultural Research - Central Marine Fisheries Research Institute. 10 páginas. Consultado em 2 de outubro de 2021 
  30. ICMBio (2018). Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção: Volume I (PDF). Brasília, DF: ICMBio/MMA. p. 462. 492 páginas. ISBN 978-85-61842-79-6. Consultado em 2 outubro de 2021