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06 de maio, 2002 - Publicado às 12h20 GMT |
Falta de imaginação domina cinema atual, diz Sonia Braga |
Braga: 'Só mulheres jovens são ativas no cinema atual'
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Teté Ribeiro, de Nova York
Machismo, racismo ou idade? Qual dos três mais afeta a carreira de Sonia Braga, a mais conhecida atriz brasileira a atuar nos Estados Unidos?
Segundo ela, o problema é a "falta de imaginação que domina o cinema hoje em dia, que afeta tudo. É como uma praga, um câncer. Sem Bertolucci, Fellini e Pasolini ficou muito complicado para as mulheres da minha idade (51). Hoje em dia é até difícil considerar o cinema como uma forma de arte. Essa indústria está sofrendo de um mal horrível, que é o mau gosto."
Foi assim, com respostas afiadas, mas ditas com charme e bom humor, que Sonia Braga respondeu às perguntas da platéia que lotava o auditório da Cantor Film Center, em Nova York, na última sexta-feira.
A brasileira era convidada especial, ao lado de Pam Grier (de Jackie Brown, filme de Quentin Tarantino de 1997), a debater o tema sexo e sexismo no cinema atual. O evento foi organizado pela Black Filmmaker Foundation, e pela New York University.
Pouca roupa
A carreira da atriz foi ilustrada para a platéia com clipes dos filmes Dona Flor e Seus Dois Maridos, de 1976, Gabriela, de 1983, The Rookie, de 1990, com Clint Eastwood, e Tieta do Agreste, de 1996.
"Gabriela foi uma personagem que interpretei duas vezes, com 10 anos de diferença. A primeira vez que vivi Gabriela foi em uma novela de televisão, em 1975", disse a atriz.
"Eu tinha 24 anos e até então não era considerada uma mulher bonita, sensual. Era tímida, boba, nunca imaginei que pudesse fazer esse papel. Mas me apresentaram para o autor do livro, Jorge Amado, e ele gostou de mim. E foi vivendo a personagem que descobri a minha sensualidade. Até deixei de ser tímida", afirmou.
Pam Grier, mais conhecida da platéia, quase toda de jovens negros estudantes de cinema, afirmou sobre as cenas que viu dos filmes que Sonia aparecia quase sempre com muito pouca roupa.
A brasileira comentou: "A nudez no Brasil é muito mais natural que aqui nos Estados Unidos. Senti isso muito nos sets de filmagens. Quando os atores fazem cenas nus aqui, assim que o diretor diz 'corta!', vem alguém correndo te cobrir com uma toalha. Isso me incomodou demais. Quando estava filmando Dona Flor e Seus Dois Maridos, na Bahia, o José Wilker, que aparece pelado quase o tempo todo no filme, vivia pelado no set, atendia o telefone, discutia as cenas com o diretor, fazia um lanche, tudo sem se cobrir nem com uma toalhinha de rosto".
A atriz disse que hoje em dia trabalha muito menos do que gostaria e que se revolta com o cinema atual, que segundo ela não retrata a sociedade como ela é.
"O cinema está muito atrasado hoje em dia. A arte sempre revelou o futuro, e hoje em dia quem revela o futuro é a ciência. A arte virou a revelação de um passado que a gente não quer mais", afirmou Sonia.
"O cinema, especialmente, retrata como uma mulher ativa apenas as muito jovens, e isso não é verdade no mundo. Porque se fosse verdade não teria o menor problema. Eu sentaria na minha cadeirinha de balanço e pronto. Mas a sociedade não se comporta dessa maneira e o cinema recusa essa idéia."
American Family
Sonia Braga está atualmente gravando a segunda temporada do seriado American Family, que retrata uma família latina em uma grande cidade americana, e é exibido na emissora pública às quartas-feiras.
No ano passado, a brasileira fez uma participação especial no seriado Sex and the City, no papel de Maria, uma artista plástica brasileira, homossexual, que se apaixona e vive um romance com Samantha, a personagem de Kim Cattrall.
"A minha sugestão de fazer uma homossexual era muito antiga, era uma personagem que eu queria muito ter feito. Fui à Espanha, sugeri pelo jornal a Pedro Almodovar que fizesse. Não deu certo, mas tive oportunidade de fazer em Sex and the City e foi maravilhoso, bacana, divertido, como eu havia imaginado."
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