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CÁSSIA ELLER

Só para provocar


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Ela é obsessiva com a música, a paixão e a droga. "Quando eu gosto, vou até o talo.” Na música, a obsessão de Cássia Eller lhe rendeu uma carreira de muito sucesso. Da paixão veio um casamento sólido, com uma mulher, e também um filho peralta, por quem ela se derrete. As drogas são um capítulo à parte, e ela fala do assunto com humor e experiência. Depois de se tratar com acupuntura "para se livrar da birita e da cocaína”, a ex-doidona continua viciada em rock’n’roll, mas agora se permite fazer incursões no mundo das canções suaves de amor. "Sou uma romântica sem delicadeza.” Por Déborah de Paula Souza. Foto: Alexandre Sant’Anna

OUÇA TRECHO DA ENTREVISTA

Marie Claire Por onde começamos? Sexo, drogas ou rock'n'roll?
Cássia Eller
[rindo] Pode ser nessa ordem mesmo.

MC Você é filha de militar, artista pop e homossexual. Como foi conciliar isso tudo?
CE
Meus pais são muito liberais, eram diferentes dos pais dos meus amigos. Eles namoravam na nossa frente, falavam de tudo, eram meio hippies. Tinha muita liberdade em casa.

MC Sua voz é incomum, a atitude idem. No início da carreira, você disse que a gravadora tentou te vender de um jeito meio equivocado, querendo que você fosse a festas badaladas e tirasse fotos ao lado de gente famosa.
CE
Não era só um problema da gravadora [Cássia lançou seus oito discos pela Universal]. Eu sou muito capiau, não sei me impor, não sei conversar nem resolver nada pela palavra. Sou horrível para explicar as coisas!

MC No palco você se expressa com veemência.
CE
Mas lá eu não tenho que falar! Nem tento. Me atrapalho toda para formular uma frase. Sou muito tímida, vai ver é por isso que tenho essa intensidade no palco. É um jeito de compensar a dificuldade que eu tenho de me expressar na minha vida, no meu dia-a-dia.

MC Nos shows você cospe, "coça o saco", mostra os peitos, imita a dança da garrafa. Você se diverte provocando os outros?
CE
Claro! Com todo o respeito [risos]. Eu acho legal acabar com qualquer tipo de formalidade.

MC Você passou por um tratamento de desintoxicação. O que levou você lá?
CE
O álcool e a cocaína. Fumei o primeiro baseado aos 20 anos, cocaína foi com 25. Resisti por muito tempo, mas quando comecei a cantar foi uma perdição total. Cantava em dois bares, ganhava umas drogas de presente.

MC Por que você tomou a decisão de se tratar?
CE
Foi há dois anos. Um dia eu acordei depois de uma ressaca total e falei: "Chega. Não quero mais". Foi de uma hora para outra, mas meus amigos já me diziam que eu estava decadente, ficando feia e rouca demais. E também me diziam: "Olha o seu filho". Eu andava irritada pra caramba. Foi muito bom ter ido me tratar. Minha convivência em casa melhorou, fiquei bem com meus amigos e dei um salto no trabalho. Antes, só queria saber de farra.

MC Você vai fazer 39 anos. A decisão de pegar mais leve é sinal de maturidade?
CE
Cada um tem seu relógio. Para mim bateu agora. Sinto que tem uma coisa diferente.

MC O que está mudando?
CE
Pela primeira vez fico analisando as coisas que eu já fiz. Quero melhorar minha qualidade de vida e minha convivência com as pessoas.

MC É difícil conviver com você?
CE
Não, sou superfácil. Mas essa coisa de birita com cocaína é muito ruim. Faz mal, deixa a pessoa agressiva. Depois de me tratar, passei a resolver problemas que antes eu não conseguia. Por exemplo, meu pai foi operado e fui eu que falei com o médico. Nunca fiz isso, era sempre a criançona da família. Mesmo com meu filho: quando ele se machucava e eu tinha que correr para o hospital, ficava que nem barata tonta, chorando com ele no colo. Aí vinha a Eugênia, pegava a gente e levava para a clínica. Tenho plano de saúde, tudo direitinho, mas eu me atrapalhava toda.

MC Você e a Eugênia estão juntas há quanto tempo?
CE
Estamos casadas há 14 anos.

MC Como você apresentou a Eugênia para sua família?
CE
Eles já sabiam que eu gostava de mulher. A gente não conversava sobre isso, mas eles viam. Mamãe sabia. A entrada da Eugênia em casa foi superlegal, só a mamãe que ficou meio assim, mas não porque era mulher. É que minha mãe é ciumenta com a gente, com os namorados das minhas irmãs também.

MC E seu pai?
CE
Papai é tranqüilo. Nunca falou nada. Mas eu nunca cheguei em casa e disse: "Essa aqui é minha namorada, a gente vai casar". Foi acontecendo. Hoje em dia todo mundo fala que o melhor casamento da família é o meu.

MC Como se faz um casamento feliz e duradouro?
CE
Não sei! Acho que encontrei a pessoa certa. Dei uma sorte danada. É um absurdo o tanto que a gente se dá bem, se completa. Isso é uma coisa louca. E ela sempre foi muito paciente comigo.

MC Por que é preciso ser paciente com você?
CE
No início do meu tratamento de desintoxicação, tive um monte de recaídas. Em vez de a Eugênia ficar me dando esporro, ela deixava passar, esperava até o dia seguinte para conseguir falar comigo de cabeça fria. Foi difícil, mas ela me conhece, sempre me deu a maior força para eu me cuidar.

MC Você já gostou de algum homem?
CE
Sempre tive tesão em homem. Não sou radical. Lógico que eu namorei muito mais com mulher. Com homem foi mais... esporrádico [risos]. Mas eu tenho tesão em homem também e me apaixonei pelo pai do Chicão [o músico Otávio Fialho, morto num acidente automobilístico, pouco antes do parto].

Reprodução
Com o filho Chico ainda bebê
MC Como seu casamento resistiu a isso?
CE
Não sei, não sei, não sei! A Eugênia sabe que tesão é uma coisa natural. Eu sei e ela sabe que a gente quer viver juntas, que a gente tem uma vida legal, uma história superlegal. E que a gente ama a nossa história.

MC Pensou alguma vez em casar com um homem?
CE
Não, porque eu já sou casada. Não dá para casar duas vezes.

MC Quem vai à reunião da escola do seu filho? Você ou a Eugênia?
CE
Nós duas. Se eu estiver viajando, vai ela. Mas a gente gosta mais de ir juntas.

MC O que significou a maternidade na sua vida?
CE
Foi uma coisa maravilhosa, um passo importantíssimo. Sempre quis ter filho, desde criança pensava nisso.

MC Nunca se perguntou se a sua opção sexual ia interferir na vontade de ser mãe?
CE
Não. Eu sabia que queria ter um filho e sabia que não precisava ficar casada com um homem para isso.

MC Que programas vocês fazem quando estão juntos?
CE
Jogamos videogame e futebol, eu gosto de bater bola com ele. Antes ele andava de skate comigo, mas agora está preferindo bola.

MC Você anda de skate?
CE
Só lá em casa, de vez em quando desço uma ladeira em Laranjeiras [no Rio de Janeiro, onde ela mora], mas não me arrisco mais que isso. Não sou muito boa, tenho medo de ser atropelada.

MC Correu um boato de que você estava grávida.
CE
Eu soube desse boato, mas eu não penso em ter outro filho. Para falar a verdade, eu adoraria encher minha casa de menino. Mas é inviável. Quando meu filho nasceu, fiquei dois anos só cuidando dele. Não achei ruim, mas tive que parar de cantar. Eu acho que criança precisa da gente o tempo inteiro.

MC Você amamentou o Chico até que idade?
CE
Três anos e meio.

MC No fundo você é uma mãezona bem careta, então?
CE
Uai, eu sou de família mineira! Eu acho que não pode tirar os peitos do menino, não. Ele tem o tempo dele, tem que ser natural. Lógico que tem o tempo da gente também... mas eu amava amamentar. Morro de saudade de ver meu peito espirrando leite. Esperei o Chico não querer mais, mas ele sempre queria. Só parou porque fui fazer uma turnê, fiquei 20 dias fora, aí foi parando.

MC Você prefere solidão para trabalhar?
CE
Agora tenho essa necessidade. A solidão está virando um método. Eu gostava de estudar com gente na sala, com a Eugênia vendo a novela e o Chicão brincando. Mas agora eu fiz um quarto com todos os meus instrumentos. Estou adorando.




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Edição 127 - Out/01
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