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Androginia

mescla de masculinidade com feminilidade ou a falta de ambas em alguém ou algo
 Nota: Este artigo é sobre gênero. Para hormônio, veja Andrógeno. Para o tema no judaísmo, veja Andrógino (judaísmo). Para outros significados, veja andrógino.

Androginia ou ginandria refere-se a dois conceitos: a mistura de características femininas e masculinas em um único ser, ou uma forma de descrever algo que não é nem masculino e nem feminino.[1]

Representação gráfica medieval de um ser humano andrógino tirado do livro Crônica de Nuremberg, primeiro publicado em latim e, no mesmo ano de 1493, também publicado em alemão, sob o título de Nürnberger Chronik; mas também largamente conhecido como Schedelsche Weltchronik, dada a autoria de Hartmann Schedel).

A pessoa que se sente com alguma combinação de características culturais, tanto masculinas (andro) quanto femininas (gyne), é quem se identifica e se define como tendo níveis variáveis de sentimentos e traços comportamentais que são tanto masculinos quanto femininos.[2][3]

A palavra é muitas vezes deturpada como androgenia, com variações androgênico, andrógena e androgênica, que são termos relacionados aos testóides, androgênio, cujo sufixo deriva de genes e são associados ao desenvolvimento ou produção hormonal das características masculinas.[4][5][6][7][8][9][10][11]

Conceito de androginia humana

A pessoa andrógina é aquela que tem características físicas e, adicionalmente, as comportamentais de ambos os sexos. Assim sendo, torna-se difícil definir a que gênero pertence uma pessoa andrógina apenas por sua aparência externa.[12] Denotando a androginia como ambiguidade de gênero, mas não necessariamente pertencendo a um gênero ambíguo ou epiceno, como é o caso das identidades ambíguas andrógine e ambígue.[13][14][15][16][17][18][19][20][21]

Pessoas andróginas do sexo masculino que prezam por sua androginia normalmente utilizam adereços femininos (homens) e do sexo feminino normalmente utilizam adereços masculinos (mulheres), visando ressaltar a dualidade. Isso posto, tende-se a pressupor que pessoas andróginas sejam invariavelmente homossexuais ou bissexuais,[22][23] o que não é verdade, uma vez que a androginia ou é um caráter do comportamento e da aparência individual de sua identidade de gênero, nada tendo a ver com a orientação sexual ou ainda com atração erótica por alguém semelhante. Assim, pessoas andróginas podem se identificar como homossexuais, heterossexuais, bissexuais, assexuais ou ainda como pansexuais.[24][25] Há ainda os que são ginessexuais e androssexuais, não especificando o gênero ou sexo de uma monossexualidade androgínica.[26]

Várias culturas não-ocidentais reconhecem identidades de gênero andrógino como terceiro sexo. A cultura judaica reconhece tumtum e androgynos. Dentre os gêneros na sociedade bugi,[27] bissu representa a categoria andrógina.[28][29][30]

Conceito na psicologia

Na psicologia, androginia é uma disforia de gênero rara que é responsável por uma condição psíquica em que a pessoa se identifica como não sendo nem homem nem mulher, mas como uma pessoa de sexo mentalmente híbrido, o que se reflete em seu comportamento. Dentro da psicologia, Sandra Bem desenvolveu um teste no qual considera-se a masculinidade e feminidade num plano bidimensional. Nessa modelagem, pessoas com traços significativos para a masculinidade e feminilidade obtidos, por exemplo, através do Inventário de Papéis Sexuais de Bem poderiam ser consideradas como andróginas.[31][32]

Para a Psicologia Analítica, de Carl Gustav Jung, andrógino ou androgínico se refere a uma integração dos pares de opostos Anima e Animus, respectivamente o feminino e o masculino, sendo ambas características associadas à mesma pessoa.[33][34]

Na mitologia

 Ver artigo principal: Androgynos (mitologia)

A pessoa andrógina é, também, segundo o livro "O Banquete", de Platão, uma criatura mítica proto-humana. No livro, o comediógrafo Aristófanes descreve como haveria surgido os diferentes sexos. Havia antes três criaturas: Andros, Gynos (gino ou ginos) e Androgynos (andróginos ou andrógino), sendo Andros entidade masculina composta de oito membros e duas cabeças, ambas masculinas, Gynos entidade feminina mas com características semelhantes, e Androgynos composto por metade masculina, metade feminina. Essas não estavam agradando os deuses, que resolveram separá-las e/ou dividi-las em duas partes, para que se tornassem menos poderosas. Fracionando Andros, originaram-se dois homens, que apesar de terem seus corpos agora separados, tinham suas almas ligadas, por isso ainda eram atraídos um pelo outro. O mesmo teria ocorrido com as outras duas criaturas, Gynos e Androgynos. Andros deu origem aos homens homossexuais, Gynos às lésbicas e Androgynos aos heterossexuais. Segundo Aristófanes, seriam então divididos aos terços os heterossexuais e homossexuais. Alma gêmea seria um conceito vindo dessa história com alusão criacionista, de acordo com o movimento esotérico de teosofia, de Edgar Cayce.[35][36][37][38][39][40][41]

Na mitologia grega antiga, em Metamorfoses de Ovídio, a náiade Salmacis se apaixona por Hermafrodito e em resposta a uma oração dela, os deuses fundem suas duas formas em uma, transformando-as em uma forma andrógina.[42][43]

Na moda

A moda sempre foi um ambiente marcado pela polarização entre feminino e masculino, por meio de roupas que são culturalmente associadas ao homem e outras associadas à mulher. Entretanto, a moda andrógina vem despontando como movimento desafiador dos padrões estéticos e, por isso, segundo a jornalista especialista em moda Lillian Pace, vivemos um momento de transformação da moda pautado pela inclusão, diversidade e igualdade entre os gêneros.[44] Nesse sentido, a androginia vem sendo utilizada pela moda como instrumento social de expressão, cujo apelo vem sendo levado a frente por grandes grifes como Versace, Gucci e Luis Vuitton.[45] Trata-se, portanto, de um fenômeno na moda que mistura, de forma intencional, as características femininas e masculinas de vestimentas construindo um produto marcado pela androginia e dando visibilidade às pessoas que se não se enquadram perfeitamente nas definições binárias de gênero.[46][47][48][49][50][51][52][53][54][55][56][57][58][59][60][61][62][63]

Ver também

Referências

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Ligações externas