Recessão causada pela pandemia de COVID-19
A recessão da COVID-19 é uma grave crise econômica global que causou recessão em alguns países (principalmente nos Estados Unidos) e em outros uma depressão econômica. É a pior crise econômica global desde a Grande Depressão na década de 1930.[1] A crise começou devido a várias restrições governamentais criadas para conter a pandemia de COVID-19 ainda em curso.[2] O primeiro grande sinal de recessão foi o colapso dos mercados durante a queda do mercado de ações de 2020, que começou no final de fevereiro e durou até março.[3][4][5] Mas a queda foi rápida e muitos índices do mercado em todo o mundo se recuperaram. Em setembro de 2020, todas as economias avançadas haviam caído para recessão ou depressão, enquanto todas as economias emergentes estavam em recessão.[6][7][8] A modelagem do Banco Mundial sugere que, em algumas regiões, uma recuperação econômica total não será alcançada antes de 2025 ou mais.[9][10][11][12]
A pandemia fez com que metade da população mundial fosse colocada em lockdown para impedir a disseminação de COVID-19.[13] Isso causou graves repercussões nas economias em todo o mundo,[14] logo após uma desaceleração econômica global em 2019, que viu a estagnação dos mercados de ações e da atividade de consumo em todo o mundo.[15][16]
A recessão tem apresentado aumentos extraordinariamente altos e rápidos no desemprego em muitos países.[17][18] A Organização das Nações Unidas (ONU) previu em abril de 2020 que o desemprego global eliminará 6,7 por cento das horas de trabalho globalmente no segundo trimestre de 2020 - equivalente a 195 milhões de trabalhadores em tempo integral.[19] Em alguns países, espera-se que o desemprego gire em torno de 10%, com as nações mais afetadas pela pandemia de COVID-19 apresentando taxas de desemprego mais altas.[20][21][22] O mundo em desenvolvimento também está sendo afetado por uma queda nas remessas,[23] agravando as crises globais de alimentos.[24]
A recessão viu uma queda no preço do petróleo desencadeada pela guerra de preços do petróleo entre a Rússia e a Arábia Saudita em 2020; o colapso do turismo e da indústria de energia ; e uma queda significativa na atividade de consumo em comparação com a década anterior.[25][26][27]
Contexto
editarQueda do mercado de ações
editarNo final de fevereiro de 2020, houve um colapso global contínuo do mercado de ações.[29][30]
A Dow Jones Industrial Average, o Índice S&P 500 e o NASDAQ-100 caíram em uma correção em 27 de fevereiro, durante uma das piores semanas de negociação desde a crise financeira de 2007-2008.[31][32] Os mercados da semana seguinte (2 a 6 de março) tornaram-se extremamente voláteis, com oscilações de 3% ou mais por sessão diária (exceto em 6 de março).[33][34] Em 9 de março, os estoques globais caíram mais de 7%, principalmente em resposta à guerra de preços de petróleo entre a Rússia e a Arábia Saudita. Esse acontecimento ficou conhecido coloquialmente como "segunda-feira negra" e foi a pior queda desde o início da Grande Recessão, em 2008.[35][36]
Depois houve a "quinta-feira negra", dia em que as ações na Europa e na América do Norte caíram mais de 9%. Wall Street teve sua maior queda percentual em um dia desde a segunda-feira negra de 1987 e o FTSE MIB caiu quase 17%, tornando-se o mercado mais atingido na quinta-feira Negra.[37][38][39]
Guerra de preços do petróleo entre Rússia e Arábia Saudita
editarA redução na demanda por viagens e a falta de atividade fabril devido ao surto de COVID-19 afetaram significativamente a demanda por petróleo, causando a queda de seu preço.[40] Em meados de fevereiro, a Agência Internacional de Energia previu que o crescimento da demanda por petróleo em 2020 seria o menor desde 2011.[41] A queda na demanda chinesa resultou em uma reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) para discutir um possível corte na produção para equilibrar a perda na demanda.[42] O cartel inicialmente fez um acordo provisório para reduzir a produção de petróleo em 1,5 milhão de barris por dia, após uma reunião em 5 de março de 2020 em Viena, que traria os níveis de produção ao nível mais baixo desde a Guerra do Iraque.[43]
Em 8 de março de 2020, a Arábia Saudita anunciou inesperadamente que aumentaria a produção de petróleo bruto e a venderia com desconto (de 6 a 8 dólares por barril) a clientes na Ásia, América do Norte e Europa, após o colapso das negociações, à medida que a Rússia resistisse aos chamados para cortar a produção. Os maiores descontos foram direcionados aos clientes do petróleo russos no noroeste da Europa.[44] Antes do anúncio, o preço do petróleo havia caído mais de 30% desde o início do ano e, após o anúncio da Arábia Saudita, caiu mais 30%, mas depois se recuperou um pouco.[45]
Por país
editarBrasil
editarO início da pandemia ocorreu em um momento em que o país ainda se recuperava da recessão de 2015/2016, o que, segundo estimativas, atrasará ainda mais a volta do Produto Interno Bruto (PIB) ao nível pré-crise de 2015. Em maio de 2020, o governo brasileiro previa que a economia do país vai experimentar sua maior queda desde 1900, com uma retração no produto interno bruto (PIB) de 4,7%.[46] No primeiro trimestre de 2020, o PIB era 1,5% menor do que o do primeiro trimestre de 2019 e caiu para os patamares de 2012.[47] Até abril de 2020, pelo menos 600 mil negócios foram à falência e 9 milhões de pessoas foram demitidas.[48]
Segundo a consultoria Capital Economics, o Brasil será um dos países que mais levará tempo para se recuperar da recessão causada pela epidemia, devido ao forte aumento da dívida pública. Segundo o relatório da consultoria, "as repercussões do forte aumento da dívida podem atrasar [a recuperação de] alguns países, incluindo Itália e Brasil, por uma década ou mais".[49]
Ver também
editarReferências
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